Olharam-se, uma do alto da sua
história com perto de três séculos feitos , a outra, do alto da sua
contemporaneidade; a primeira, firme e serena, esfinge branca, alta e fria, com
modos à antiga cumprindo normas e preceitos, rituais com toques de arrogância
que regulam a vida dos que se regem por eles, a outra quente e mundana,
sedutora no seu vestido vermelho que à noite alcança o apogeu de luz ,
desregrada e moderna contendo promessas
de ávidos prazeres; rivalidades inconciliáveis as desunem e, no meio do pomo da
discórdia, ao destilar de um ódio quer barroco quer moderno, o rio Mondego
assiste, qual testemunha muda e indiferente sem se pronunciar.
Onde Sobriedade e luxo se confrontam, em
margens opostas, empunhando cada qual a sua espada, defendendo cada uma um
território de valores contraditórios e inexpugnáveis, separadas pelo tempo e
pelo rigor de uma em contraste com o pendor displicente da outra, duas belas
torres, cada qual com seu encanto: uma feita de cultura e recato, a outra,
consumo e depravação; rivalidades femininas na luta sem tréguas por
pretendentes que, indiferentes à disputa, se repartem por ambas sentindo apelos
opostos quer se deitem com uma quer acordem com a outra.

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