Ao ler «The Emperor’s New drugs exploding the antidepressant
myth» de Irving kirsch apeteceu-me
voltar a folhear um outro livro, há muito guardado, de uma autora que me tinha
indignado pela ingenuidade e até um certo toque de, não direi charlatanice, mas
talvez de uma certa leveza, por encarar assuntos de tão grande importância com
uma linguagem simples demais, com afirmações sem nenhuma validade – pensava eu –
como se apenas da verdade se tratasse. O livro de Louise L. Hay, há tanto tempo na
prateleira, tendo a atestá-lo o preço ainda em escudos – 1495$00 – diz coisas
como: “O poder está dentro de si” ; “Quando
perdoamos e nos libertamos, não é só um peso enorme que sai das nossas costas,
é também uma porta que se abre para nos amarmos a nós próprios”; “Os pensamentos
que escolhemos para pensar são as ferramentas que utilizamos para pintar a tela
das nossas vidas” , Etc. numa infinidade de “máximas” como estas… Lembrei-me
dela principalmente porque o título do livro que agora tenho em cima da
secretária se chama precisamente «O poder está dentro de si» e foi preciso
muito tempo e ler agora o Kirsch para me aperceber do valor da sua obra
aparentemente, pelo menos naquele tempo para mim, sem valor algum. Descubro nas
suas palavras muita sabedoria, muitas das coisas que aprendi em filosofia, no
budismo, na psicologia… A verdade é que a sabedoria dos gregos, das filosofias
orientais como o budismo, de muitos autores de obras literárias, embora nos
tenhamos afastado dela para seguir o paradigma da ciência, vão sendo cada vez
mais validadas pela própria ciência. Assim aconteceu com a famosa expressão “o poder está dentro de si” que as investigações do Kirsch e outros sobre o efeito
placebo têm vindo a demonstrar. Segundo este autor, que fez um dos maiores
estudos conhecidos e citado em imensos livros e artigos científicos, a
variável fundamental para a cura é acreditar. E acreditar pode ser simplesmente num medicamento que se está a tomar, ou pensa que está – Kirsch afirma até que muito do poder de
cura da medicina em várias áreas tem a ver com este fenómeno.
Ele fez uma
Meta Análise dos dados de doentes que estão a seguir tratamento para a depressão com
antidepressivos com os que tomam placebo – o placebo não tem qualquer princípio ativo – e
descobriu que as melhoras que os pacientes apresentam podem ser explicadas em cerca de 80% dos casos por esse efeito, que
mais não é do que o poder da “fé”. Nem
ele queria acreditar! Por isso fez variadíssimas investigações para se
assegurar que estava certo antes de publicar o que tinha encontrado. Como é
óbvio levantou enorme celeuma no meio científico e mudou completamente a perspetiva
que ele próprio tinha sobre os medicamentos.
Isto é, ao mesmo tempo, maravilhoso e preocupante.
Maravilhoso porque ficamos a saber – como já muitos sábios sabiam, passe a
redundância – que efetivamente o poder para nos curarmos está dentro de nós e
que um bom terapeuta o que faz é ajudar a encontrar esse caminho. É, por outro
lado, preocupante porque andam milhões de seres humanos neste mundo a tomar
antidepressivos que quase nenhum efeito terapêutico tem, mas que, em
contrapartida, tem efeitos adversos gravíssimos como por exemplo poder levar a cometer suicídio.
Claro que a Louise Hay tem muitas outras afirmações
que não me conseguem convencer, mas quem sabe estará certa? Em várias outras
que faz, descobri que a psicologia tem dado validade científica como, por
exemplo, a importância da aceitação – existe até a Terapia da Aceitação e Compromisso
– para muitos perturbações psicológicas.
Maria João Varela