O fantástico dos milagres é que um dia, deixam de o ser… só o são até ao dia em que as causas que os geraram passam a ser conhecidas. Muitas pessoas temem esse conhecimento, mas as causas “verdadeiras” dos fenómenos costumam ser bem mais interessantes do que assumir que se trata de um feito de uma qualquer entidade imaginária.
O efeito placebo é um desses “milagres” que todos os dias acontecem, no entanto, muitos médicos ainda hoje em dia, devido ao ceticismo inerente à sua profissão, ou por pura teimosia, optam por não lhe dar o devido valor e subvalorizam o poder que tem para melhorar e até curar alguns doentes. A conhecida frase: “ a fé cura” é verdadeira embora dita quase sempre num contexto religioso que não vem agora ao caso.
Um placebo é uma substância inerte, cirurgia ou terapia "de mentira", usada como controle numa experiência, ou dada a um paciente pelo seu possível ou provável efeito benéfico. Como é que uma substância inerte, uma pílula de açúcar, ou falsa cirurgia ou terapia fazem efeito, não está completamente esclarecido.
Muitos acreditam que o efeito placebo seja psicológico, devido a um efeito real causado pela crença ou por uma ilusão subjetiva. Se eu acreditar que uma pílula ajuda, ela vai ajudar, ou a minha condição física não muda, mas eu sinto que ela mudou. Por exemplo, Irving Kirsch, um psicólogo da Universidade de Connecticut, acredita que a eficácia do Prozac e drogas similares pode ser atribuída quase que inteiramente ao efeito placebo. Sabe-se, também,que as experiências sensoriais e pensamentos podem afetar a neuroquímica, e que o sistema neuroquímico do corpo afeta e é afetado por outros sistemas bioquímicos, inclusive o hormonal e o imunológico.
Há até uma anedota dos meios psiquiátricos que corrobora o poder que as crenças têm. Essa anedota conta que um paciente acreditando ser um cadáver, levado à força pela sua mulher para ser tratado estava já a levar o psiquiatra ao desespero pela sua incapacidade de o fazer mudar de perspetiva, até que inspirado lhe diz: “ diga-me caro senhor M., os cadáveres sangram? Ao que este, até um pouco ofendido com a pergunta óbvia lhe responde: “ Claro que não, senhor doutor!” O médico espeta-o então com uma agulha e exultante exclama: “ Vê? O senhor não é um cadáver! O senhor sangrou!” Um pouco aturdido responde então o paciente: “ Oh! Querem lá ver que afinal os cadáveres sangram!”
Enquanto os mecanismos por trás do efeito placebo não se encontram totalmente descodificados podemos, mesmo assim, aproveitar os benefícios que esse poderoso efeito tem, como por exemplo, acarinhar, cuidar, dar atenção a alguém que está doente pois este facto, por si só, liberta endorfinas que são os analgésicos naturais do corpo. Daí se depreende que muito do poder que naturalmente é conferido a alguns prestadores de cuidados tem a sua base nos mecanismos naturais do próprio corpo; o caminho está aberto para toda a espécie de charlatanice, milagres atribuídos a santos deuses ou curandeiros, mas também para que quem presta cuidados de saúde como médicos, enfermeiros, psicólogos, etc., usem este poder que tem também o seu oposto, a ser evitado, o efeito nocebo.
Quando um médico diz a um doente que tem pouco tempo de vida, que tem uma doença crónica, quando lhe fala demoradamente em possíveis efeitos secundários de um tratamento ou quando simplesmente não dá atenção, não demonstra empatia, não cuida, está a utilizar esse poderoso efeito nocebo que vai ter os efeitos contrários ao efeito placebo.
Milagres acontecem a toda a hora no nosso sistema integrado “corpo-mente” e conhecê-los só nos pode libertar e espantar, nunca limitar!
Sem comentários:
Enviar um comentário