Somos o país das paixões e da fé, das festas e
jantaradas- nem que depois não haja para o resto do mês- mas enquanto há festa
há romaria, cantes e cançonetas e ajuntamentos que se farta; que importa o
amanhã se hoje há bebedeira na certa? Lá vamos rezando a Nossa Senhora de Fátima
o terço, lá vamos arrastando os joelhos mortificados pela fé e lá vamos
festejando o futebol- já me parece só faltar aqui o fado…
Que importa sermos sempre os últimos naquilo que
importa? Da justiça à educação, da saúde- não somos os mais obesos, os reis das
patologias mentais, os que mais morrem do coração? - PIB- “Qué, qué isso?”- que importa agora a
dívida? Essa fica para os netos e bisnetos. Que importa não haver futuro? O
aqui e agora é este. E o futebol manda mais que a barriga cheia… Que importam
velhos abandonados e doentes? Que importam crianças sem teto ou comida? Que
importa continuarmos a ser agora aquilo que sempre fomos: dos mais pobres da
Europa?
Mas, que tem? É preciso esquecer as desgraças, ter
fé que tudo se compõe virá, talvez, um
D. Sebastião que nos salve. Ámen! Ámen!
Que importam filas nos hospitais? Os salafrários
no poleiro? Que importa isso agora? Somos bi, somos bicampeões, carago!
Amanhã acordamos todos outra vez… lá está o país,
a falta de emprego : do jovem, adulto e idoso, a falta de carcanhol- quem olhasse
para o estádio não o diria- a falta de
combustível que hoje é gasto para dar a volta às rotundas, lá estão os velhos-
um pouco mais velhos ainda, mais tristes também- lá estão os antidepressivos
para nos esquecermos que somos tristes, pobres e que pouco ou nada fazemos para
alterar coisa alguma. Somos assim. Sempre assim fomos e seremos: é nossa sina e destino, a música pimba ao
domingo, a festa, a farra, a chouriça e o tintol, os impropérios contra quem governa e por fim ,
o conformismo com isto tudo porque está-nos no sangue. Já nascemos assim.
Que tenho contra a festa, o futebol, a alegria?
Nada minha gente! Só gostava que estivessem onde deveriam estar. Que envolvessem
menos gente e energia, menos paixão e euforia do que as lutas que
verdadeiramente importam e que nos fariam sair deste triste fado. Só isso.
Agora viva! Somos bicampeões, carago!
Maria João Varela
Maria João Varela
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