É
ponto assente, pelo menos para um multiculturalismo radical, que criticar as
sagradas escrituras do Islão, as crenças da Idade das Trevas dos muçulmanos ,
nem que tal crítica seja suportada por factos,
amplamente documentados, ou que sequer sejam negados pelos visados,
que isso corresponde a ser-se islamofófico . Pior ainda: quando nos
prendam com esse neologismo, habitualmente o mesmo vem acompanhado do bicho
papão da extrema-direita e dos crimes bárbaros perpetrados por Hitler. Dizem
ainda, os proponentes da superioridade muçulmana, que islamofobia é
precisamente a generalização que se faz ao querer colocar tudo no mesmo saco; não
se apercebem, mas já eles próprios caíram na mesma tentação: colocaram todos os
que criticam o Islão no mesmo saco islamofóbico… E não é um saco qualquer. É um
saco muito malcheiroso que junta numa amálgama – eles também criticam as
amálgamas – os que odeiam imigrantes, os que queriam uma Europa só com europeus – num autismo
exacerbado- aqueles que odeiam os
muçulmanos propriamente ditos e os fervorosos cristãos que acreditam ser o seu
Deus melhor do que Alá. A verdade é que Pode ser-se crítico do Alcorão, do
Islão e dos muçulmanos sem, no entanto, se ser nada destas coisas.
Francisco
Louçã é um desses radicais, juntamente com mais alguns da sua cor política e
segue num autêntico raciocínio circular fazendo derivar da falsa, e sobrestimada,
perceção que os europeus e norte americanos têm da percentagem de imigrantes muçulmanos
nos respetivos países, o sucesso das políticas da extrema- direita. Como se
estivesse bem estabelecida a ligação, mas não está. Assim como também não tem
necessariamente a ver o número de radicais islâmicos com os estragos que fazem
e a sua capacidade de galvanizar as populações: podem ser uma minoria, mas
fazem muitos estragos e estão em crescimento.
Este
radicalismo multicultural quer ainda que assumamos um pecado que cometeram os nossos antepassados cristãos da Idade Média aquando as bárbaras
cruzadas, num assomo religioso digno do pecado original descrito na Bíblia e
que todos carregamos até ao Juízo Final. Por causa desse pecado nada podemos,
hoje, apontar aos outros visto sermos bem piores; é preciso continuar ad infinitum com a prece: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. E, para aqueles que não se identificam com
este pecado há sempre o terror do nazismo a espreitar à esquina. Tudo isto
porque nos atrevemos a dizer o que o Islão é. Pois se é verdade que nem todos
os muçulmanos perseguem os infiéis também é verdade que não o devem ao Corão
que incita, pela voz do seu profeta Maomé a que o façam. A título
exemplificativo, este trecho dá para
ficar com uma pequena ideia do que é o Corão :“E quando vos enfrentardes com os
incrédulos, (em batalha), golpeai-lhes os pescoços, até que os tenhais
dominado, e tomai (os sobreviventes) como prisioneiros.” - Alcorão 47:4 – ou aqui
“"Matai-os onde quer se os encontreis e expulsai-os de onde vos
expulsaram, porque a perseguição é mais grave do que o homicídio... E
combatei-os até terminar a perseguição e prevalecer a religião de Deus. Porém,
se desistirem, não haverá mais hostilidades, senão contra os iníquos." -
Alcorão 2:191,193 . Podemos pois dizer que os verdadeiros muçulmanos são os
jihadistas e não o contrário.
Como
diz o investigador Scott Atran o Corão, tal como a Bíblia, dá-se às mais
variadas interpretações, como se de poesia se tratasse e por isso mesmo é que é
possível atribuir-lhe virtudes de guerra e virtudes de paz. Este mesmo investigador alerta para a importância
de não minimizarmos o perigo crescente do radicalismo religioso e, a par do
filósofo francês Yves Michaud, diz que o fenómeno tem vindo a aumentar principalmente
nas novas gerações. Não é batendo com a cabeça num muro de lamentações
ocidental pedindo perdão pelos nossos pecados que vamos lá! É preciso saber que
o perigo é real e que há uma crescente massa de muçulmanos que se reveem nas
promessas de aventura, desafio, virtude e morte dos jihadistas, sim; muçulmanos
de nascença e os convertidos. Há
mulheres ocidentais que trocam a vida de liberdade educação e secularismo por
submissão, anulação da própria identidade e escravatura; há jovens que não se
identificam com os valores de liberdade, direitos e garantias das sociedades em
que cresceram e que estão dispostos a largar a suas famílias para se juntarem à
ISIS.
Não
vamos matar o mensageiro chamando-lhe islamofóbico só porque vai contra o
politicamente correto e dá a conhecer um perigo real que está a ser subestimado.
Temos de ter a consciência que nem sempre somos nós que escolhemos o inimigo;
às vezes é ele que nos escolhe a nós… Para os que realçam os valores e virtudes
do Islão calcando os valores de liberdade - de expressão e outros - para os que rejeitam que se possa sentir orgulho em
pertencer a uma sociedade laica querendo que nos sintamos envergonhados pela
nossa cultura só posso dizer uma coisa: mudem-se! De certeza que serão muito
bem recebidos por aqueles que tão acerrimamente defendem, mas não se iludam, à
primeira falha cortam-vos a cabeça numa sanha justiceira. É que muitos devem a
moderação que têm às leis dos países onde vivem…
É
sempre desejável abertura e respeito pelos valores das outras culturas, mas
esse respeito, esse esforço nunca pode ser unilateral nem obrigatório sob pena
do multiculturalismo não passar de mais um radicalismo.
Maria João Varela