quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Semente venenosa




Estamos a viver num país em que todos culpam todos e nunca ninguém se senta  e, sozinho com os seus botões, se pergunta onde foi que eu errei? Que posso fazer daqui para a frente para que tudo corra melhor? É muito fácil criticar, já assumir responsabilidades é sempre muito difícil, no entanto, é o único caminho para a mudança.
 Onde foi que errámos? Onde continuamos a errar? Que passos devemos dar para a mudança ocorrer? Estas perguntas deveriam ser respondidas por cada um de nós. Já não há paciência para criticas, acusações, sentimentos de injustiça, indignações; onde é que isto nos leva? A lado nenhum, só se consegue aumentar o desconforto pela situação, mais nada. 
Numa reportagem que li a propósito da Islândia e das mudanças que tinham feito, lembro-me que uma das coisas que mais me impressionou foi o facto de eles praticamente não se queixarem, no entanto, saíram para a rua e mudaram as coisas, porque será? Que têm eles que nós não temos?  Nós falamos muito e agimos pouco e para nós os outros são sempre os culpados e nós próprios somos uns anjos na terra. Onde estão as mães e pais desta geração? Onde estão os que educaram estes que, agora chegados  ao topo, açambarcam os restos que ainda há para açambarcar tal qual  cães vadios que revolvem os fundos dos caixotes do lixo buscando, esfaimados, o que sobrou das copiosas refeições de outrora? Eu respondo, estão por aí, estão por todo o lado, ao nosso lado, somos nós; por mais que custe, somos nós…
Sempre que educamos no sentido dos nossos filhos levarem vantagem, de serem os melhores, quando fazemos comparações: “ Já viste  as notas do filho da “C”? Tens de te esforçar para seres melhor do que ele  para a próxima; Já viste o namorado da “I” ? A família dele é dona de metade cá da terra, se ao menos tu também arranjasses um assim”; “o vizinho comprou um carro novo, deve ter custado um balúrdio, está na hora de trocarmos o nosso…”, sempre que o fazemos estamos a incentivar a mentalidade que combatemos depois, naqueles que, tendo o poder, mais não fazem do que seguir o que lhes foi ensinado. É bom que nos consciencializemos de que sempre que valorizamos alguém simplesmente por aquilo que acumulou, por aquilo que tem, pelas vantagens que alcança estamos a incentivar as novas gerações a manter esta mentalidade que nos está a afundar.
Comparações, a existir, devem ser feitas olhando para aquilo que éramos e que agora somos; ou que os nossos filhos eram e são agora, valorizar o esforço e não os resultados, valorizar atitudes e não bens acumulados, aceitar diferenças e “fraquezas” ajudando a melhorar , incutir outros valores.
Os responsáveis pela nossa situação somos todos nós, com os nossos comentários,  atitudes pouco refletidas  e quando mais depressa o aceitarmos mais depressa começaremos a mudar este país que continua o mesmo que  Eça de Queirós imortalizou. Façamos cada um  Mea culpa  e comecemos a educar os nossos filhos de forma diferente e, na próxima geração teremos um país melhor, pois ou muito me engano ou podemos  mudar de governo todos os dias e mesmo assim até ao final do século nada mudará porque a semente venenosa é deitada à terra, todos os dias, por todos e cada um de nós.




(imagem retirada da net)

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