Gostei de ver o povo português
assim unido num protesto; até os mais relutantes saíram à rua: eu não. Não fui. Não que prefira qualquer outra
tarefa mais interessante mas, simplesmente, porque me identifico completamente
com as palavras de Madre Teresa de Calcutá quando diz: “ convidem-me para
manifestações que digam sim à paz e eu irei, agora contra a guerra; jamais! Porque
aí o ênfase é dado à guerra.
Ouvi muitos dizerem que querem outro 25 de abril
mas, a meu ver, e como já diz o ditado o rio não passa duas vezes no mesmo
sítio querendo com isto dizer que jamais as condições serão idênticas e vejo
muitas diferenças daquela época para esta e dos interesses diferentes que estavam em jogo.
Uma das diferenças mais relevantes diz respeito àquilo que as pessoas queriam e
ao facto de saberem exatamente o que queriam, e agora, saberão? E eis-me
chegada ao motivo principal porque não me juntei à população: sei perfeitamente
o que as pessoas – eu incluída – não querem, mas o que querem elas? Quererão
que saia o PSD para voltarem a colocar no seu lugar o PS?
Só ouço que não queremos mais
desemprego, não queremos troika, não queremos passos coelho – com minúscula e tudo
– não queremos muita coisa, mas o que queremos no fim de contas?
Diz-se que a necessidade aguça o
engenho e tenho que reconhecer que aqui o povo português foi de uma
criatividade sem par, os cartazes, empunhados por furiosas mãos – algumas cansadas
de tanto trabalho sem o justo contributo – tinham verdadeiras obras de arte
indo do humor negro ao sarcasmo mais corrosivo como se todos nós tivéssemos já
nascido para isto: fazer cartazes e empunha-los e , segundo consta, muito do
que se viu foi espontâneo tendo as pessoas começado a juntar-se sem que nada
fizesse prever o impacto numérico –
ainda por cima num sábado de verão como este em que noutras circunstâncias
estariam todos de papo para o ar a ouvir o famoso refrão: “ Olha a bolinha de Berlim,
croissant d’ovo…” «Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades» como dizia Camões.
Confesso-me um pouco envergonhada
por ver tanta gente que luta, que pede mudança, que diz “Não”, que diz “Basta”
e eu aqui fiquei assim, impotente, petrificada, sem me apetecer mexer; a
verdade é que não sei bem o que quero e como quero. Não sei que partido lá
quero, não sei que medidas me assustam mais se estas em que claramente o país
vai ao fundo dentro em breve, se outras em que tudo é suposto ficar como até
aqui; eu só sei que nada sei – como Sócrates, o filósofo, porque o outro sabia
e era muito…
Pois, e assim continuo sem saber
se quero esquerda se direita, se Monarquia ou República, anarquia ou ditadura, se sol ou chuva, frio
ou calor, fome ou gula. Mas quero dizer “Sim”
e não dizer “Não”, pois no dia em que soubermos para onde queremos ir, nesse
dia, será dado o passo sem retorno e aí será um tsunami e não uma onda de gente.
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