Seria bom estarmos sempre de partida e sempre de chegada… nada
se compara a um cenário observado pela primeira vez; aos sons que ouvimos estranhando os graves e
os agudos, os sussurros das notas
cantadas pela natureza e que, estando lá sempre, pelo menos a nós que agora
chegámos, nos parecem de uma beleza que passa despercebida a quem já se
habituou.
E é este “habituar” que é preciso contrariar, é este
acostumar embrutecendo o que é belo que urge combater. Como os sentidos
despertam quando contemplamos uma paisagem pela primeira vez! Como os aromas nos parecem únicos e de um
prazer sem começo nem fim que nos atordoa e faz a vida valer a pena! Partamos, pois. Não importa para onde, mas
partamos para podermos chegar e saborear como uma criança saboreia um fruto
doce pela primeira vez.
A partida, essa, também tem o seu encanto. É quando queremos
tudo abarcar pois já nos falta o que ainda temos; temos sem ter, já não sentimos nosso o que
está diante de nós e mesmo a olhar, tocar, sentir, mesmo assim não é nosso. Até
o doce nos parece mais doce e a brisa mais fresca, o que era feio agora é bonito e o aborrecido ganha novos encantos
descobertos à última hora enquanto perguntamos porque não olhámos com mais
atenção enquanto havia tempo… Agora já não há. Resta a nostalgia e a leve
esperança de regressarmos um dia e vivermos o que nos faltou viver agora. Só que
esse dia nunca chega; mas nós chegamos a algum lugar, aproveitemos então enquanto
é tempo o raro despertar dos sentidos e nunca, mas nunca, nos deixemos “habituar”.
(imagem retirada da net)
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