Se me ouvisses, se ao menos pudesses saber que também eu já
estive presa no rodopio das palavras sem esperança, das noites e dias sempre
iguais, inúteis e lentos. Sei que não me ouves porque nem isso és já capaz, mas
ao menos olha-me. Consegues ver bem lá no fundo dos meus olhos como te
compreendo? Eu consigo ver nos teus essa angústia que não se explica, só se
sente, esse vazio onde outrora pairavam sonhos e fantasias. Acredita, agora não
os vês, mas eles continuam lá… levanta-te.
Eu sei que queres dormir, sei que davas tudo para descansar
desses pensamentos que te atordoam a mente e bailam em círculos, não desistas. Estou aqui para ti,
sempre estive, sempre estarei.
Vou-te embalar no meu colo, acariciar-te as mãos cansadas de
promessas vãs e tolas; afagar-te a alma, consolar-te… levanta-te.
Sei que custa.
Levantares-te para ires aonde? Não importa agora. Sentes o meu respirar em
sintonia com o teu? É que eu sou tu e tu és eu, não suporto a tua dor porque
ela também é minha; quem te disse que estás só? Não, não te vou deixar entregue
aos fantasmas que te povoam a mente, vou ajudar-te a que a pouco e pouco os
deixes partir e voltarás a sorrir, prometo, e a sentir que a vida tem cor, uns
dias tem mais; mas tem. Que a vida tem sabor, que o vento sussurra quando
paramos para o ouvir; que o mar cheira a maresia e que os teus olhos não choram sozinhos.
Olha bem para mim, acreditas? Vamos, levanta-te…
Sem comentários:
Enviar um comentário