quinta-feira, 16 de maio de 2013

Certificações e outras aptidões


As pessoas gostam de ser enganadas, gostam que alguém surja como salvador de qualquer coisa- será o síndrome do sebastianismo?-vá de encontro aos seus medos, angústias ou quiçá expectativas goradas e num ápice põe de parte as regras mais básicas do raciocínio crítico e cai na esparrela de algum bom falante.
Hoje em dia, com o google, num fechar de olhos temos uma resposta bem elaborada, um comentário a uma questão, um autor citado sem que a pessoa que comenta faça a menor ideia daquilo que está a falar; surgem cursos e certificações nas mais diversas áreas cujas entidades certificadoras têm origens mais que obscuras senão mesmo estranhas. E não se pense que isso se passa  em áreas pouco reconhecidas ou de pouco valor intelectual; não, passa-se exatamente em áreas onde seria suposto as pessoas terem sido treinadas a serem mais céticas: educação, psicologia, nomes com “neuro-isto e neuro-aquilo” então crescem como cogumelos, estrangeirismos para dar ares de grande conhecimento; pobres portugueses continuam com os síndromes já detetados por Eça de Queirós no século XIX.
Entramos então num paradoxo sem igual na história, onde muitas vezes pessoas idóneas, com trabalho sério na sua área de investigação, são desconhecidos ou porque não têm tempo para divulgar o seu trabalho para lá das revistas da especialidade que lhes impõem um ritmo alucinante para poderem subsistir ou então a sua linguagem tornou-se tão técnica que não há leigo que lhe consiga ler uma frase. Não têm jeito para o negócio.
Mas se pensamos que pelo menos a comunicação social será uma área vacinada contra o charlatanismo desenganemo-nos pois muitas vezes não se dão ao trabalho de investigar as suas fontes se a pessoas convidada para comentar um qualquer assunto for bom falante; se trouxer alguma polémica à mistura melhor ainda.
Assim, proliferam como cogumelos certidões e outras aptidões que fariam corar de vergonha o vigarista mais empedernido, não se coíbem de com uma linguagem apelativa,  de que são bons conhecedores isso tem de se dar a mão à palmatória, embriagar os sentidos com uma certificação fácil para temas complexos.
A poucos chegarão as minhas palavras pois não sou doutora- ainda- mas uma coisa me gabo de ter, uma coisa que vejo com tristeza poucos conterrâneos terem: espírito crítico e há coisas que saltam à vista; fazem pop-out mesmo, mas há quem tenha cegueira aprendida. 

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