Sim, conheço o breu dos dias sem esperança e sem futuro. Nada
pior. Nada maltrata mais do que olhares em frente e não teres caminho para
caminhar nem coragem para o construir. A isso chamam depressão. Ai, a angustia
dos dias que não passam, sim passam, mas nem te apercebes pois são todos
iguais, todos monótonos, todos de dor feitos, todos indistinguíveis, incolores,
insalubres, insípidos…
Olhas, mas não vês, ouves, mas não sentes o vibrar das
ondas; nada queres, nada desejas, não te importas…
Conheço de cor o cansaço de quem pensa: para quê? Para onde? Sem encontrar sentido nas próprias questões
que ficam sem resposta; conheço a vontade de desistir só pelo cansaço que é o
simples ato de pensar.
Conheço o caminho de pequenos passos em direção à reconstrução
de um passado, presente e futuro ah, o futuro. Sem o futuro em mente ando, ando
, mas só em círculos, viciosos. Conheço
o lento despertar do estado de hibernação, a primeira e quase impercetível
alegria do raio de sol que vem pousar e acariciar a pele até ali insensível a
estas e outras manifestações.
Sei, sei bem o que é sentir o redescobrir do saltitar das
papilas gustativas respondendo a um sabor que se intensifica pela simples razão
de ter estado adormecido. Sei a sensação, quase de criança que pela primeira
vez aprecia o aroma das maçãs maduras ou do pão torrado pela manhã.
Tudo volta aos poucos, a alegria, a esperança, os dias com
propósito e preenchidos; e uma enorme vontade de poder ajudar quem ainda se
encontra na hibernação dorida e cansada dessa viagem ao interior vazio de uma
mente assombrada por fantasmas que parecem reais, mas não são: ao primeiro
sinal de determinação fogem para longe.
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