“ - Mãe, mãe, olha aqui!” . A pequena não devia
ter mais de quatro anos e esperava ,como gente grande, a vez da mãe ser
atendida na CGD. Enquanto isso,
entretinha-se, como muitas crianças da sua idade, com um carrinho com um boneco
com quem se ocupava querendo mostrar à mãe uma qualquer habilidade que passará
para sempre despercebida pois a mesma não levantou os olhos do seu Ipad, ou
Iphone ou que seja que tivesse em mãos. Sorria para o aparelho que manuseava
com desenvoltura enquanto ia teclando furiosamente para alguém ausente, mas que
lhe preenchia a mente mais do que o pequeno ser que ainda tentou de novo com a
persistência característica de crianças desta idade: “- Olha, mamã!”. Agora o apelo era mais forte e a mãe,
visivelmente incomodada, esboçou um sorriso amarelo advertindo que não a
chateasse.
Pergunto-me, que pode ser mais interessante dentro
de um aparelho para que tenha direito ao sorriso e atenção que esta mãe negava
agora à filha? Visivelmente desiludida continuou sozinha a brincadeira, por mais uns minutos, mas claramente se
aborrecia por não ter com quem partilhar as alegrias da experiência ou
simplesmente para mimetizar o comportamento da própria mãe, posou o boneco no
berço e sentou-se mais junto desta começando
a olhar para o ecrã talvez, quem sabe, ciumenta, da atenção despropositada que
atraía a progenitora. A mãe sorriu,
agora sim para a criança, que ficou como ela atenta ao que se passava no mundo
virtual e completamente alheia à experiência real que poderiam estar a
compartilhar juntas.
Pergunto-me que lição terá aprendido a criança
desta interação? Talvez que as suas brincadeiras são pouco atrativas, que ela
própria é pouco interessante, que terá a atenção da mãe se também, ela, fizer o
mesmo que a mãe faz… claro que se for um
caso pontual não tem importância nenhuma, tendo eu observado o que me inspirou
a escrita num momento sem réplica. Mas
acredito pouco nisso. É cada vez mais comum ver este tipo de cenas que, quanto
a mim, irão ter repercussões que ainda desconhecemos.
Ia deixando passar a sua vez tão alheada estava no
divertimento virtual; a experiência real, passou ao lado sem lhe ter pousado a
vista em cima… Nunca mais voltará. Até poderá ter uma parecida, mas esta
certamente perdeu-se num ato inconsequente cujas consequências, além das
desconhecidas, serão, provavelmente, o facto de vir a sofrer de algum tipo de
corcunda no pescoço da posição que o mesmo adota para olhar para o ecrã, antevejo
já as deformidades que advirão deste abuso e não me compadeço pois estas mesmas
informações poderão consultar em qualquer Iphone ou Ipad – para mim é tudo o
mesmo – que tenham agora entre as mãos…
Maria João Varela
O olhar, a oportunidade de com elas ser também criança ... e assim (re) lembrar o que se é e quem È, é uma bênção ... é só perceber o quanto é importante o Amor!
ResponderEliminarObrigada Ponto&Virgula, Maria João, pela partilha.