sábado, 16 de agosto de 2014

O poder está dentro de si

Ao ler «The Emperor’s New drugs exploding the antidepressant myth»  de Irving kirsch apeteceu-me voltar a folhear um outro livro, há muito guardado, de uma autora que me tinha indignado pela ingenuidade e até um certo toque de, não direi charlatanice, mas talvez de uma certa leveza, por encarar assuntos de tão grande importância com uma linguagem simples demais, com afirmações sem nenhuma validade – pensava eu – como se apenas da verdade se tratasse. O livro de Louise L. Hay, há tanto tempo na prateleira, tendo a atestá-lo o preço ainda em escudos – 1495$00 – diz coisas como: “O poder está dentro de si” ;  “Quando perdoamos e nos libertamos, não é só um peso enorme que sai das nossas costas, é também uma porta que se abre para nos amarmos a nós próprios”; “Os pensamentos que escolhemos para pensar são as ferramentas que utilizamos para pintar a tela das nossas vidas” , Etc. numa infinidade de “máximas” como estas… Lembrei-me dela principalmente porque o título do livro que agora tenho em cima da secretária se chama precisamente «O poder está dentro de si» e foi preciso muito tempo e ler agora o Kirsch para me aperceber do valor da sua obra aparentemente, pelo menos naquele tempo para mim, sem valor algum. Descubro nas suas palavras muita sabedoria, muitas das coisas que aprendi em filosofia, no budismo, na psicologia… A verdade é que a sabedoria dos gregos, das filosofias orientais como o budismo, de muitos autores de obras literárias, embora nos tenhamos afastado dela para seguir o paradigma da ciência, vão sendo cada vez mais validadas pela própria ciência. Assim aconteceu com a famosa expressão “o poder está dentro de si” que as investigações do Kirsch e outros sobre o efeito placebo têm vindo a demonstrar. Segundo este autor, que fez um dos maiores estudos conhecidos e citado em imensos livros e artigos científicos, a variável fundamental para a cura é acreditar. E acreditar pode ser simplesmente num medicamento que se está a tomar, ou pensa que está – Kirsch afirma até que muito do poder de cura da medicina em várias áreas tem a ver com este fenómeno.
 Ele fez uma Meta Análise dos dados de doentes que estão a seguir  tratamento para a depressão com antidepressivos com os que tomam placebo –  o placebo não tem qualquer princípio ativo – e descobriu que as melhoras que os pacientes apresentam podem ser explicadas em  cerca de 80% dos casos por esse efeito, que mais não é do que o poder da “fé”.  Nem ele queria acreditar! Por isso fez variadíssimas investigações para se assegurar que estava certo antes de publicar o que tinha encontrado. Como é óbvio levantou enorme celeuma no meio científico e mudou completamente a perspetiva que ele próprio tinha sobre os medicamentos.
Isto é, ao mesmo tempo, maravilhoso e preocupante. Maravilhoso porque ficamos a saber – como já muitos sábios sabiam, passe a redundância – que efetivamente o poder para nos curarmos está dentro de nós e que um bom terapeuta o que faz é ajudar a encontrar esse caminho. É, por outro lado, preocupante porque andam milhões de seres humanos neste mundo a tomar antidepressivos que quase nenhum efeito terapêutico tem, mas que, em contrapartida, tem efeitos adversos gravíssimos como por exemplo poder  levar a cometer suicídio.

Claro que a Louise Hay tem muitas outras afirmações que não me conseguem convencer, mas quem sabe estará certa? Em várias outras que faz, descobri que a psicologia tem dado validade científica como, por exemplo, a importância da aceitação – existe até a Terapia da Aceitação e Compromisso – para muitos perturbações psicológicas.

Maria João Varela


1 comentário:

  1. Fico sempre feliz, quando a Ciência "valida" o que muitas vezes não é visível, palpável ... aos olhos e meandros médicos ... Se os interesses capitalistas e ganância não fossem tão cruéis como se assiste ... talvez fosse para a maioria mais fácil, acreditar no que é chamado de subtil e etéreo e que existe em cada um. Não mata, antes é a chave a agarrar ... pois são as ferramentas para o Ser Integral, pleno e Feliz ... Mas, isto era tornar todos igualmente poderosos, responsáveis e interdependentes ... O que não é conveniente ... para o poder instituído das minorias (cada vez mais ricas)
    E imaginar que a ciência já sabe tanto mais ... do que é dito ...
    Obrigada Ponto & Vírgula. Muito há que embora a Ciência ainda não lhe é conveniente falar ... para além do que ainda não sabe explicar ... certo é que muito em cada um se passa e existe, capaz de curar, tanto quanto a capacidade de contrariar a saúde gerando doença.
    Obrigada!
    CN, Claud's home.

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