domingo, 29 de janeiro de 2012


Círculo virtuoso

William James teve uma intuição que, passado mais de um século, ainda não tem grandes efeitos práticos embora tenha sido já corroborada pela neurociência. Os sentimentos, isto é, as sensações subjetivas das emoções são um produto do reconhecimento do cérebro cortical das demais reações fisiológicas e comportamentais desencadeadas no corpo por determinado evento ambiental (o estímulo emocional). 
De modo resumido, esta ideia inverte a perspectiva do senso comum segundo a qual a reação a um estímulo emocional (aumento do batimento cardíaco ou a expressão de um sorriso) ocorre após a pessoa tomar consciência da emoção que está sentindo. Ao contrário, para James, primeiro reagimos (reações fisiológicas e comportamentais) ao estímulo emocional; o sentimento da emoção se dá porque tomamos consciência dessas respostas emocionais. Assim, a consciência de uma emoção ocorre após essas reações emocionais terem ocorrido. Por outras palavras, nós não sorrimos porque estamos alegres, mas estamos alegres porque sorrimos!
Em termos práticos isto significa que podemos mudar o nosso estado de espírito usando o nosso comportamento: agimos de acordo com a emoção que queremos sentir que o sentimento aparece. Isto é de um poder incrível! significa que para estarmos alegres basta rirmos – mesmo se, de inicio, não tivermos vontade – para estarmos confiantes, adotarmos a postura correspondente e assim por diante…
Agora já não há mais desculpas: façam o favor de serem felizes nem que tenham de cantar, sorrir, saltar, dançar sem que de início vos apeteça.  

domingo, 22 de janeiro de 2012


                                 O Poder está em nós!
Uma das mais úteis aprendizagens é, sem dúvida, a arte de fabricar emoções. Ninguém nos ensinou a fazê-lo, mas temos esse poder.
De início assusta pois podemos pensar que, a partir do momento em que tomamos consciência disso, já nada será como dantes; já não nos podemos desculpar com A,B ou C  por nos estarmos a sentir irritados, desiludidos, tristes ou enraivecidos. Não quero de modo algum dizer que não devemos sentir estas emoções, até um certo nível elas são importantes, só se tornam problemáticas quando nos impedem de seguirmos com a nossa vida para a frente em direção aos nossos objetivos. Como disse, é verdade que já não nos podemos desculpar com ninguém porque em último caso somos nós que decidimos como nos sentir mas, longe de ser intimidatório, é libertador.
Já se imaginou no total controle das suas emoções? Já imaginou ter a motivação necessária para aquelas decisões que tem, reiteradamente, adiado? Já imaginou ter o poder de deixar passar uma ofensa e não estar nem aí?  Quer sentir mais amor, paz de espírito, entusiasmo, alegria? As emoções têm  uma estrutura, não são blocos monolíticos e, se é verdade que não podemos entrar dentro do nosso cérebro, rodar um botão e zás, sentir uma emoção diferente, podemos mexer na estrutura. Um exercício muito útil é repararmos em três aspetos fundamentais que suportam uma emoção.
Em primeiro lugar temos a fisiologia da emoção muito ligada à postura corporal, respiração, movimento, fala e tom de voz.  Imaginemos a emoção como um programa em que, por exemplo, para a emoção tristeza corresponde um cair de ombros, cabeça baixa, respiração mais lenta, tom de voz baixo e arrastado, movimento corporal lento. Por vezes, basta levantar a cabeça, ombros para trás, obrigar-se a um sorriso, andar mais rápido para se sentir imediatamente melhor; o segredo é este! Tente lá ficar triste enquanto dá uma corrida, ou enquanto endireita as costas e levanta a cabeça! Impossível, o padrão da emoção tristeza foi quebrado.
Muito importante também é o foco, aquilo em que nos focamos induz emoções, podemos estar num lugar tranquilo, a desfrutar do nosso dia de folga, no entanto, o nosso foco pode estar na discussão que tivemos de manhã com o nosso (a) companheiro(a), ou podemos estar preocupados com o trabalho (chato) que não chegámos a acabar antes do fim-de-semana , tanto num caso como no outro o nosso foco induz emoções que não correspondem ao que queremos. Podemos ainda estar preocupados com os quilinhos a mais e, se calhar aquela pessoa que entrou e olhou para nós – embora nem nos tenha visto – reparou, enfim, podemos estar focados em milhentas coisas, o importante é tomarmos consciência disso, o que requer alguma prática, e sempre que o foco não seja adequado para a emoção que queremos sentir, focarmo-nos naquilo que é importante e nos põe num estado de maiores recursos.
Por último, mas não menos importante,temos a linguagem. As palavras têm energia, tanto positiva como negativa e tornam-se na nossa experiência. É paradigmático o modo como os portugueses respondem à pergunta: “Como te sentes hoje?” invariavelmente respondem: “ vai-se andando”, claro que essa expressão se confunde com a própria experiência e dificilmente se sentem ótimos, espetaculares, completamente felizes. Muito cuidado pois com as palavras, elas são uma componente importante das emoções, induzem-nas. Já reparou como os brasileiros – tidos como dos mais otimistas do mundo respondem à mesma pergunta?  “ Beleza!”, “tudo legal”, etc.
Tendo em vista a tríade que compõe as emoções: fisiologia, foco e linguagem, condicione-se, porque no fundo é disso que se trata, para sentir o que deseja. Experimente o seguinte exercício:
1º )  Defina a ou as emoções que quer sentir mais frequentemente . As que lhe servem o seu objetivo atual como, amor, paz, alegria, entusiasmo, vitória, etc.
2º) Escolha uma destas emoções, por exemplo, entusiasmo e repare na sua postura corporal, respiração, repare também no seu foco, qual o teor das suas palavras? O que diz quando sente entusiasmo?
Quando tiver bem presente o que faz quando sente entusiasmo, ou outra emoção que queira sentir, acabou de obter a estrutura ou padrão e pode manipulá-lo de forma a servi-lo melhor. A partir de agora e com a prática correta conseguirá gerir as emoções que melhor lhe servem em cada momento. Agarre esse poder!



Milagres acontecem, sim!


O fantástico dos milagres é que um dia, deixam de o ser… só o são até ao dia em que as causas que os geraram passam a ser conhecidas. Muitas pessoas temem esse conhecimento, mas as causas “verdadeiras” dos fenómenos costumam ser bem mais interessantes do que assumir que se trata de um feito de uma qualquer entidade imaginária.
O efeito placebo é um desses “milagres” que todos os dias acontecem, no entanto, muitos médicos ainda hoje em dia, devido ao ceticismo inerente à sua profissão, ou por pura teimosia, optam por não lhe dar o devido valor e subvalorizam o poder que tem para melhorar e até curar alguns doentes. A conhecida frase: “ a fé cura” é verdadeira embora dita quase sempre num contexto religioso que não vem agora ao caso.
Um placebo é uma substância inerte, cirurgia ou terapia "de mentira", usada como controle numa experiência, ou dada a um paciente pelo seu possível ou provável efeito benéfico. Como é que uma substância inerte, uma pílula de açúcar, ou falsa cirurgia ou terapia fazem efeito, não está completamente esclarecido. 
Muitos acreditam que o efeito placebo seja psicológico, devido a um efeito real causado pela crença ou por uma ilusão subjetiva. Se eu acreditar que uma pílula ajuda, ela vai ajudar, ou a minha condição física não muda, mas eu sinto que ela mudou. Por exemplo, Irving Kirsch, um psicólogo da Universidade de Connecticut, acredita que a eficácia do Prozac e drogas similares pode ser atribuída quase que inteiramente ao efeito placebo. Sabe-se, também,que as experiências sensoriais e pensamentos podem afetar a neuroquímica, e que o sistema neuroquímico do corpo afeta e é afetado por outros sistemas bioquímicos, inclusive o hormonal e o imunológico. 
Há até uma anedota dos meios psiquiátricos que corrobora o poder que as crenças têm. Essa anedota conta que um paciente acreditando ser um cadáver, levado à força pela sua mulher para ser tratado estava já a levar o psiquiatra ao desespero pela sua incapacidade de o fazer mudar de perspetiva, até que inspirado lhe diz: “ diga-me caro senhor M., os cadáveres sangram? Ao que este, até um pouco ofendido com a pergunta óbvia lhe responde: “ Claro que não, senhor doutor!” O médico espeta-o então com uma agulha e exultante exclama: “ Vê? O senhor não é um cadáver! O senhor sangrou!” Um pouco aturdido responde então o paciente: “ Oh! Querem lá ver que afinal os cadáveres sangram!” 
Enquanto os mecanismos por trás do efeito placebo não se encontram totalmente descodificados podemos, mesmo assim, aproveitar os benefícios que esse poderoso efeito tem, como por exemplo, acarinhar, cuidar, dar atenção a alguém que está doente pois este facto, por si só, liberta endorfinas que são os analgésicos naturais do corpo. Daí se depreende que muito do poder que naturalmente é conferido a alguns prestadores de cuidados tem a sua base nos mecanismos naturais do próprio corpo; o caminho está aberto para toda a espécie de charlatanice, milagres atribuídos a santos deuses ou curandeiros, mas também para que quem presta cuidados de saúde como médicos, enfermeiros, psicólogos, etc., usem este poder que tem também o seu oposto, a ser evitado, o efeito nocebo. 
Quando um médico diz a um doente que tem pouco tempo de vida, que tem uma doença crónica, quando lhe fala demoradamente em possíveis efeitos secundários de um tratamento ou quando simplesmente não dá atenção, não demonstra empatia, não cuida, está a utilizar esse poderoso efeito nocebo que vai ter os efeitos contrários ao efeito placebo.
Milagres acontecem a toda a hora no nosso sistema integrado “corpo-mente” e conhecê-los só nos pode libertar e espantar, nunca limitar!

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