Ao homem foi dado desbravar continentes e vencer
tempestades conquistando impérios ao dominar os oceanos, passou o cabo das tormentas
para chegar a terra firme; matou,
esventrou e foi dono e senhor dos impérios conquistados a golpe de afiadas
espadas; a mulher conquistou o ponto G e foi essa a sua maior conquista. Claro que
ao ser conhecedora de que o criador não a tinha castrado, como acreditava
Freud, que não era desmerecedora dos prazeres carnais e que não era por isso
mesmo responsável pela queda e expulsão do paraíso, imbuída dessa confiança
partiu para outras conquistas… ora o homem não gostou. Para além das conquistas
que lhe eram asseguradas bastando desembainhar a espada, teria agora de
conquistar o cume das conquistas femininas pois esta tinha ido à lua e já não
se contentava com algum macho incapaz de lhe aflorar a bandeira.
Pode parecer redutora a teoria da conquista
feminina ser o dito ponto “G” que tantos detratores se negam a aceitar, mas
não: é que saber-se digna do maior prazer à face da terra - concupiscente é
certo - levou a mulher a acreditar ser
digna de todas as outras coisas também; senão por que razão haveria o criador de
a prendar com um tal éden não fora a intenção de lhe suavizar o caminho rumo a
conquistas mais modestas, mas mais duras? Não é à toa que em todas as
sociedades onde a revolução sexual não entrou as mulheres se sintam indignas de
conquistar outros terrenos pois sentindo-se menos capazes que o homem nesse
âmbito, sentem-no nos outros também, nem é tampouco inócuo o facto dessas
mesmas sociedades lhes negarem tal direito com casamentos arranjados,
violações, excisões e outras barbaridades. Não se minimize pois a conquista o
ponto “G” pois enquanto o homem andava em sangrentas batalhas a mulher, sabe-se
lá por que meios, foi conquistando e conhecendo o seu corpo por tantos séculos
conspurcado e defraudado acusado de ser o templo do pecado, o homem fazia por
isso pois tremia de terror que a mulher ao se conquistar a si mesma, ao saber
que não veio a existir só para parir com dor como tão biblicamente lhe
apregoavam as escrituras, fosse conquistando os terrenos que eram seus pela
força.
A mulher veio a conquistar, não pela força, nem
pela espada, mas pela inteligência e confiança que lhe era dada pela ida à lua
onde deixou a bandeira e onde só um homem verdadeiramente corajoso se atreveria
na travessia, que é feita a dois, mas que no final premeia também quem se
arriscou. Ganharam os dois nessa conquista feminina: a mulher porque se soube
capaz de outras paradas, o homem porque soube que a mulher não lhe quer roubar
nada, apenas tão e só o que é seu por direito, ou seja, tudo…
Maria João Varela
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