terça-feira, 4 de setembro de 2012

Partir e chegar



Seria bom estarmos sempre de partida e sempre de chegada… nada se compara a um cenário observado pela primeira vez;  aos sons que ouvimos estranhando os graves e os agudos, os sussurros  das notas cantadas pela natureza e que, estando lá sempre, pelo menos a nós que agora chegámos, nos parecem de uma beleza que passa despercebida a quem já se habituou.

E é este “habituar” que é preciso contrariar, é este acostumar embrutecendo o que é belo que urge combater. Como os sentidos despertam quando contemplamos uma paisagem pela primeira vez!  Como os aromas nos parecem únicos e de um prazer sem começo nem fim que nos atordoa e faz a vida valer a pena!  Partamos, pois. Não importa para onde, mas partamos para podermos chegar e saborear como uma criança saboreia um fruto doce pela primeira vez.

A partida, essa, também tem o seu encanto. É quando queremos tudo abarcar pois já nos falta o que ainda temos;  temos sem ter, já não sentimos nosso o que está diante de nós e mesmo a olhar, tocar, sentir, mesmo assim não é nosso. Até o doce nos parece mais doce e a brisa mais fresca, o que era feio agora é  bonito e o aborrecido ganha novos encantos descobertos à última  hora enquanto  perguntamos porque não olhámos com mais atenção enquanto havia tempo… Agora já não há. Resta a nostalgia e a leve esperança de regressarmos um dia e vivermos o que nos faltou viver agora. Só que esse dia nunca chega; mas nós chegamos a algum lugar, aproveitemos então enquanto é tempo o raro despertar dos sentidos e nunca, mas nunca, nos deixemos “habituar”.
















(imagem retirada da net) 

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