sábado, 8 de setembro de 2012

viciada em livros


Dizem que os livros são como um amigo, qual amigo qual quê; um livro, ou os livros neste caso, foram a mãe, o pai, os irmãos, a família inteira… não saberia viver sem eles. Nunca escolhi nenhum, foram sempre eles que me escolheram a mim, insinuando-se com as suas sedutoras  capas de cores brilhantes. O bailado das letras agarra-me, hipnotizando-me, e já só me vejo a dizer à livreira: “ quero este!” e pronto, já está. Lá me leva ele para casa e já não mais me larga até que acabe de o desfolhar  primeiro, devagarinho , como quem tateia um mundo desconhecido, tomando conhecimento do seu cheiro único – é isso, acho que é o cheiro que resolve o dilema com que me deparo às vezes quando, indecisa, demoro a escolher – do tamanho das letras e número de páginas e não faz mal se são muitas, só não me chateiem até que acabe de o devorar.
Cresci a ler, saí cedo da escola, mas nunca me faltaram livros; comida sim, às vezes, mas livros nunca. Se as pessoas se medissem em cima das pilhas de livros que já leram em vez de descalças como normalmente, eu seria enorme, seria uma top model sem rival… às vezes penso que não fui formatada na escola e por isso dou por mim a pensar diferente, sem falsas modéstias, eu penso diferente e a culpa é deles, ou melhor dos seus autores, pessoas de todo o mundo, e eu cresci assim a ler pessoas de todo o mundo,  sem a pressão dos exames podia ler e reler vezes e vezes sem conta e refletir no que lia sem que alguém me dissesse que estava na hora de fazer um exame e deixar de pensar no assunto.
Só já na vida adulta me sujeitei aos exames que fui passando, mas já nada havia a fazer a minha mentalidade universal estava já formada, por isso sinto-me cidadã do planeta terra que eu adoro, mas não gosto de patriotismo bacoco. Quem lê e lê muito e reflete no que lê é mais tolerante porque conseguimos ver sob muitas perspetivas diferentes:  O famoso “Madame Bovary”  de Gustave Flaubert que pelos olhos de uma adúltera nos mostrava a fragilidade humana que conseguia ter  alguém que assim enganava o pobre Charles, o marido; Eça de Queirós com o seu fiel retrato da sociedade portuguesa do séc. xıx que se mantém, infelizmente, atual; Os irmãos Frochard de Arsène Blanc que li e reli vezes sem conta com uma lanterna a pilhas por debaixo do lençol -  não que me proibissem de ler, mas porque não tinha eletricidade -  e que me fez viajar por todo o mundo vendo através dos olhos perspicazes do autor que  contava como, por sua vez, as suas personagens viam o mundo, e eu sonhava, vivia uma realidade difícil mas sonhava e sabia que havia um mundo melhor do que o meu e bem maior . A imaginação soltava-se e eu estava ali sem estar. Nada, nunca, pode substituir um bom livro.
Por isso sou rica, rica não, milionária, bilionária, não trocaria todas estas experiências por nenhuma riqueza “ material” deste mundo, deveria mesmo existir uma revista como aquelas que existem para medir a riqueza material e que medisse o número de bons livros que alguém já leu e o número de horas que refletiu sobre eles, estaria entre os primeiros lugares , não tenho dúvida nenhuma.
 Ler, pensar,  “digerir” as ideias expostas e torna-las nossas e depois, só depois, deixar que a boca se abra, ou a mão escreva  o que se pensa sobre a questão porque aí sairá uma ideia novinha em folha , o conhecimento assim absorvido quando divulgado já sairá de roupagem nova  já lhe terá sido acoplado algum do conhecimento único que cada pessoa contém  criando assim conhecimento totalmente novo. É assim, a meu ver, que uma sociedade evolui e não divulgando o conhecimento tal e qual ele se encontra exposto.
imagem retirada da net

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