Enterrámos o machado de guerra e a comprová-lo
está a tua camisa e a minha entrelaçados no chão de um quarto repleto de aromas
de amor; os desatinos, esses, foram-se assim que pisámos o chão que nos lembra
outras noites, outros encontros de vícios feitos, que rasgam as roupas e
reconstroem a alma. Nesses momentos em que seduzidos, ambos, nos entregamos
numa rendição absoluta, em que tu e eu nos transportamos numa onda de prazer
para outros paraísos que nem terrenos são, em que tudo o que é palpável se
desintegra dando vida a um outro mundo só nosso, lá estão as nossas intimidades
expostas que jazem em formas retorcidas e se abraçam no chão.
Tirámos tudo, e nesse desnudar ficámos tão dignos
de amor, numa crueza e soberba poderosa que nem todos os amantes conhecem por faltar
a coragem de serem vistos por inteiro; aterroriza que nos vejam e sintam
quando nos abandonamos: que seria se neste momento em que larguei a armadura
com que me apresento, em que atiro ao chão os acessórios que me aconchegam o
corpo me rejeitasses? Mas não o fazes pois também tu anseias por ser completo
nessa entrega.
Aos poucos vão-se os sons que não são de amor
feitos, ficam só o teu arfar e o meu, esquecem-se outros vícios e sem mais
delongas cobrimos de beijos os corpos nus, rejeitadas as roupas que imitam no
chão o que se passa na cama: cada peça tua e minha, atiradas assim sem jeito
nem cuidado, se sentiram atraídas e se entreteceram…
Esquecem-se os prantos, turva-se a visão e o resto
da paisagem, envergonhada de tanta paixão, dissemina-se por momentos e já só o
que existe são sentimentos; sem corpos nem roupas; só um movimento crescente
que culmina e decai…
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