Quem cozinha sabe que uma cebola com uma camada
podre bem no centro é a coisa mais irritante que pode encontrar enquanto
prepara o jantar; aconteceu-me hoje e senti-me enganada pois a mesma
apresentava uma casca exterior sem mácula e mesmo quando a descasquei, à
primeira vista, nada faria prever que enquanto eu me esforçava por retirar o
que não prestava na esperança de aproveitar alguma coisa ela ia minguando,
minguando até me dar por vencida e verificar que não se aproveitava nada… Se
isto é irritante com cebolas imagina com pessoas…
Há pessoas que são assim e, por mais que nos
esforcemos por encontrar o seu “tesouro” que acreditamos estar bem escondido
dentro, bem no âmago, escavamos, escavamos, mas por mais que escavemos só vamos
encontrando mais e mais podridão; e não é que até nem possam ter algo que se
coma, mas dão tanto trabalho que quando, depois de muito escavarmos lá
encontramos o tal “tesouro” reparamos que ele é bem pequenino e sentimo-nos tão
irritados e enganados que tal como na cebola só nos apetece deitar tudo fora
pelo tempo precioso que nos fizeram perder.
Uma cebola podre é uma cebola podre: olhamo-la e
num ápice sabemos que o seu caminho é o caixote do lixo, não nos engana, quando
muito se for a última lamentamos a sorte, mas atiramo-la fora na mesma pois
nada se pode aproveitar dela; uma que tenha as primeiras camadas putrefactas,
mas que contenha no meio uma camada sã vale bem o trabalho de lhe retirar as
camadas superficiais e sentimo-nos satisfeitos por ter tido a paciência de a
livrar de uma tal capa, mas as que nos enganam com uma capa luzidia e nos fazem
ter esperança nelas para nos dececionarem com uma camada intermédia contaminada,
tal como as pessoas de mesmo calibre são odiosas e repelentes.
Não sei bem porquê, mas lembrei-me desta metáfora
para me referir a Nuno Abrantes Ferreira
cujo discurso que destila veneno me fez ler até ao fim na esperança de lá
encontrar o tal “tesouro” que como é óbvio não encontrei senão não estaria a
escrever este texto. E li porque me deixei enganar pelas credenciais de
professor universitário… “não pode ser” pensei, no final deve ter algum
parágrafo que venha contradizer as imbecilidades que diz e fui lendo, lendo
coisas como : “Cada um tem o que merece”, “O português quando nasce, nasce
sempre para ser grande. Mas por qualquer razão nunca passa de mais um pequenino”
ou ainda “ Parece-me uma “lapalissada” que quem é bom chega lá. E quem é
menos bom fica com o que há”. Todo o discurso do princípio ao fim revela um
desconhecimento tal do que é a natureza humana e do verdadeiro valor motivacional
que tem sonhar, já para não falar que o velhinho debate sobre natureza versus
cultura já lá vai muito atrás – percebe-se que não saiba porque passou os anos
de faculdade nos copos – como o próprio refere no seu livro : “Faz o curso na
maior” e que se alguma coisa de produtivo ficou desse debate é a influência
imensa que tem a cultura, família, estatuto socioeconómico para aquilo que
vimos a ser e não como o mesmo afirma “ os melhores chegam lá”.
Se de alguma coisa se pode acusar os portugueses
não é de sonharem grande, mas bem pelo contrário é de confiarem pouco nas suas
capacidades e, pior ainda, acreditarem em imbecis como estes que de certeza hão
de destruir os sonhos de muitos só para terem quem lhes passe as camisas,
despeje o lixo e faça o pão… E já agora quem disse a este cretino que ninguém sonha
em ser padeiro? É que o bem de sonhar é quem nem todos querem o mesmo desta
vida. Por mim, dava-me por satisfeita e teria um sonho concretizado se ele
fosse despedido e deixasse de contaminar a mente dos seus alunos e a Faculdade onde leciona e, sei lá, se dedicasse
a algo mais condicente com a sua cultura quem sabe a acartar baldes de massa?
Maria João
Varela
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