sábado, 12 de julho de 2014

E ao final da tarde, amor?

E ao final da tarde, amor?
Quando o sol se desinibia
vindo banhar-se ao Mondego
cujas águas, de um azul profundo,
se raiavam de ouro;
a velha canoa
ancorada, longe da labuta,
compunha, agora, esse quadro vivo.

Mil estrofes de amor,
outrora cantadas por lábios,
como os nossos,
sequiosos de beijos,
ondulavam em sussurros
vindo acariciar-nos os pés descalços,
no leve balançar,
da ondulação vespertina.

Afundava, o velho plátano,
e o coração, talhado nele,
por mãos  febris
de paixões comandadas,
afundava junto…
E os nomes dos amantes,que o amor juntara,
afogavam a paixão de outrora
pela corrente levada.


Só nós e o rio sabíamos
as juras proferidas que iam juntar-se a outras
- quem sabe há já muito esquecidas -
 e que o vento transportava,
quem sabe para onde ou  até quando.
Ficávamos, assim,
indiferentes ao resto do mundo
num casulo impregnado de amor e mel
e de todos os absurdos
que só as almas apaixonadas conhecem.

Maria João Varela


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