Pior do que ser mau, terrível ou
ignóbil é ser mediano, estar na média, não ser carne nem peixe enfim, estar no
meio da curva de “gauss”. Nada mais aterrador do que ser o “normalzinho”; nada
tem que sobressaia, tem um sorriso normal, uma família normal, um ordenado
normal- aqui normal significa frequentemente baixo, mas para ilustrar a questão
serve-; tem enfim uma vida em tudo mediana. Não ri alto nem baixo, não causa
problemas nem alegrias, não tem grandes feitos, nem falhanços.
O normal não se pode queixar nem
vangloriar. Não tem inimigos como o execrável, nem amigos tem ; quando muito
para ficar na média lá tem uns tantos como ele- todos normais- com quem
partilha a normalidade dos dias abominavelmente medianos. O normal não pode
dizer que é pobre e com isso granjear a compaixão alheia dos olhares piedosos
de quem se sente superior, nem tampouco é objeto de inveja ou admiração-
conceitos tão próximos e distantes ao mesmo tempo- por ter algo que os outros
cobicem; passa simplesmente sem ser notado.
Coisa triste estar entre os dois
extremos, entre as polaridades onde tudo se passa, onde as reações químicas se
dão e fazem o mundo girar; ser um
neutrão sem carga elétrica é a coisa mais chata do mundo e, no entanto, que
seria do mundo sem eles?
A ciência vive obcecada por encontrá-los, procura-os
com afinco e determinação para poder catalogar e classificar os fenómenos e,
pensando bem, nada existiria sem eles; tal como um átomo se desintegraria sem o
neutrão, também o mundo se esboroaria sem os normais.
O facto é que por muito que não
queiramos ser normais ou estar na média; por muito que lutemos afincadamente
para fugir ao estigma, logo que nos afastamos é ouvir-nos dizer: “ eu só quero
uma vida normal”. Quem já não ouviu as grandes estrelas de cinema ou outras
entidades igualmente proeminentes afirmar isso mesmo? Já para não falar dos que
vivem abaixo da normalidade. Fugimos da normalidade como o diabo da cruz, mas
no final é tudo quanto desejamos: ter uma vida medianamente normal.
É que fugir ao padrão dá muito
trabalho, principalmente a manter o desvio porque exige uma criatividade
constante, um esforço contínuo e permanente e no fim de contas estamos sempre a
um passo do abismo da normalidade, se nos distraímos caímos nele com estrondo
para gá
udio daqueles que, desconhecendo os inconvenientes de se ser distinto,
se comprazem com a queda.
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