Um pedido de desculpas? Claro que sim. Um pedido
de desculpas devem-me todos aqueles que amei – ou ainda amo – e não me amaram -
ou amam a mim… mas depois, de que servia: “desculpa lá, mas não te amo” , não
servia de muito, não é? Deveriam pedir-me desculpa por eu pensar neles, por
chorar por eles, por sentir saudades deles, mas de nada me serviria que
pedissem. Por isso não me devem nada. Deveriam pedir-me desculpa por se
instalarem na minha vida, fazerem-me perder tempo, invadirem-me as noites de
pesadelos e os dias de solidão e depois não aparecerem, nem um telefonema dão. “
Desculpa lá, mas não penso em ti”. De que serve isso? De que serve sermos os
únicos a quem a natureza ludibriou obrigando-nos a pensar em quem não pensa em
nós? Só serve para que desejemos ardentemente fazer parte dos pensamentos
daqueles que fazem parte dos nossos. É que nem é preciso mais nada, só isso,
mas não; tínhamos logo de ser nós os tramados, aqueles que por não vigiarmos as
portadas deixámos que se instalassem na nossa mente aqueles que não nos deixaram
entrar a nós na deles; ou, pior ainda, deixar-nos entrar até deixaram, mas na
primeira oportunidade despejaram-nos como se não pagássemos a renda. E isso é
indesculpável. Mas de que serve um pedido de desculpas: “ desculpa lá, mas
entrei-te por aí dentro sem te pedir e
agora não me quero ir embora, mas não te vou deixar entrar a ti, está bem?” “
não faz mal, sê lá feliz.” Mas no fundo não queremos. Vê-lo rir, estar alegre,
viver a vida e nós ali a um canto a chorar baba e ranho pelo ser amado que não
nos ama, nem pensa em nós. Como poderíamos querer que esse ser fosse feliz? O
que nós queremos é que ele sinta o peso da nossa falta como nós sentimos a dele,
que chore e sofra todos os horrores que nós sofremos, que se sinta invadido de
noite e de dia, que haja sempre uma incompletude nos seus dias como há nos
nossos… “desculpa lá isso, não mandamos nos sentimentos” “ claro que não,
vai-te lá embora e sê feliz” gostaríamos de poder dizê-lo, até temos boas
intenções e tudo e falamos com convicção, mas quando não volta, não vem mais,
não telefona e vive feliz sem nós, eh, pá! Isso dói como o caraças.
Maria João Varela
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