sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ainda é possível mudar o mundo?



Quem não se lembra desse intenso desejo tão humano de querer mudar o mundo?  Habitualmente, na adolescência, toma-se consciência de que não vivemos num mundo perfeito e que os adultos que antes idolatrávamos afinal estão cheios de incongruências,  escondem com afã os seus defeitos – por vezes até de si próprios – e até vivem vidas medíocres só para fazerem parte dessa sociedade que ajudam a criar, mas que bem lá no fundo abominam. Juramos então jamais nos tornarmos assim, rebelamo-nos e no esforço de agregar outros para as nossas fileiras expomo-nos a  um ou outro adulto que julgamos mais “puro”. Começa então aí a verdadeira desilusão porque esse adulto que até é bem intencionado já não acredita; também ele na sua adolescência quis mudar o rumo dos acontecimentos, mas isso, como mais tarde iremos constatar por nós próprios é uma utopia, é impossível mudar o mundo porque as pessoas que nele vivem não querem. Então a desilusão toma conta de nós e a vida acaba por dar razão a quem tão razoavelmente nos avisou e, repetidamente, assistimos  ao que acontece aos rebeldes: são párias da sociedade, sem abrigo, descriminados socialmente; caímos em nós e chegamos à conclusão que mais vale seguir as regras.
Claro que, por vezes, no nosso percurso pelos caminhos já trilhados e seguros encontramos quem ainda não se conformou e que até é bem aceite pelos demais, seja porque não o levam a sério, seja porque passa a sua mensagem com algum humor, seja porque tem uma posição relevante na sociedade ou pela simples boa manutenção da paz comum, lá vai sendo tolerado e, por vezes, consegue  mesmo despertar o idealista que há em todos nós. Esses são os verdadeiros líderes da nossa sociedade, os que podem fazer a diferença e levar-nos a aproveitar o pouco tempo que nos resta para fazer uma verdadeira revolução de mentalidades e conseguir, ainda, a salvação da espécie humana e do nosso planeta.
Claro que há profissões  que estão numa posição favorável para mudar o mundo através das mentalidades; não são os políticos – credo – não são os advogados, nem os polícias, com o devido respeito que estas e (quase) todas as outras profissões me merecem,  nem tampouco  uma qualquer classe inspirada num romance de Joseph Ritson  que ajudou a celebrizar Robin Wood o épico herói que roubava aos ricos para dar aos pobres. Por muito atrativa que seja esta ideia ela não é viável a longo prazo pois roubados os ricos que, também ficariam pobres, outra coisa não restaria do que um bando de famintos à face da terra. Quem verdadeiramente tem o poder de mudar o mundo são essa classe tão abandonada tanto pelo poder político quanto pelos próprios encarregados de educação: os professores, naturalmente.
Não sou professora por isso estou à vontade para elogiar e prestar o meu culto a esses seres fantásticos com uma capacidade tão grande de auto- sacrifício – como têm mostrado ao longo dos anos em que têm sido abandalhados à esquerda e à direita. Penso não haver ninguém que não tenha na memória algum professor que fez a diferença na sua vida – a não ser, é claro, que não tenha andado na escola e esses não estariam aqui a ler os meus escritos. Alguns objetarão que os professores são isto e aquilo, muitos nomes menos próprios e eu até posso concordar com alguns, mas eu hoje falo dos Professores, daqueles que estão na profissão por paixão, daqueles a quem brilha o olhar ao falar das matérias em que são mestres, daqueles que tocam o coração dos alunos em toda a sua humanidade, esses com “P” maiúsculo; esses, meus amigos, são insubstituíveis. E, além do mais, nem sequer precisam de ser muitos, os outros, com letra minúscula, que se atêm a passar de um recipiente para o outro o conhecimento tal qual o absorveram para passar nos exames enquanto sonhavam com um chorudo ordenado – que queda deram! – esses, não conseguem diminuir  a luz que os outros trazem à nossa vida, a luz do conhecimento e do amor por ele.
Não espanta, pois, que neurocientistas  que também querem mudar o mundo e já sabem como o fazer ,procurem esta classe privilegiada pelo acesso que têm a mentes facilmente moldáveis, e lhes queiram ensinar os fundamentos da mente humana. Que conjugação de esforços! Penso serem estes os arautos da boa nova  que vem dos estados EUA – onde primeiramente nasce o que é mau, mas também o que é bom: os fundamentos de uma nova civilização humana baseada em tradições antiquíssimas, mas com a sustentação científica que exigem os povos culturalmente mais avançados.
Tenho pois a esperança num mundo melhor, onde aprendemos desde a mais tenra infância a dominar este potencial incrível que herdámos  pela processo da  evolução e com o qual tão pouco sabemos lidar e que será capaz de nos revelar a verdadeira natureza humana que está em muitos de nós adormecida, não que sejamos maus por natureza, mas simplesmente ignorantes na forma de moldar este órgão de complexidade incomparável.

PS. No próximo artigo explicarei com um pouco de detalhe o que estas práticas -  onde coabitam mindfulness e outras – podem fazer por todos nós, adultos incluídos.


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