terça-feira, 14 de agosto de 2012

O dilema dos ouriços



A parábola dos ouriços é paradigmática dos relacionamentos humanos. Conta a história que num certo dia gélido e arriscando a morte, ouriços de picos espetados resolveram aproximar-se dos seus congéneres para se aquecerem. O resultado como é bom de ver não podia ser mais desastroso, como se não bastassem os próprios picos ainda tinham de ser furados pelos picos alheios. Afastaram-se e começaram novamente a enregelar pelo que se aproximaram outra vez. E assim por diante até conseguirem encontrar uma distância ótima para nem serem picados, nem morrerem de frio.
Esta história foi contada por Schopenhauer, o filósofo alemão do século XIX , e ilustra o facto das relações humanas de maior proximidade serem as que maior gratificação podem trazer , mas também, mais  probabilidade têm  de magoarem. Encontrar a proximidade ideal, é pois, essencial para relacionamentos duradouros e satisfatórios.
Nada mais há de tão complicado na vida como a convivência diária e para a qual estejamos tão mal preparados. Não há famílias felizes, dizem alguns, quando muito toleramo-nos a custo e arranjamos, por vezes, distâncias demasiado longas que nos proporcionam um frio quase intolerável. É necessário, pois, encontrar a distância correta; mas como?
Que saudades quando os entes queridos estão longe, nessas alturas só lembramos as brincadeiras, os bons momentos que passámos juntos, o inverno à lareira a contar anedotas, ou as traquinices que fizemos no verão;  recordamos a forma única como ele ou ela nos compreende, como nos consolou quando fomos rejeitados pela primeira vez, como nos faz rir à gargalhada como ninguém… mas quando juntos, as virtudes dele ou dela desaparecem num ápice e já só vemos os defeitos: a forma barulhenta com que mastiga, o jeito despreocupado com que deixa coisas espalhadas pela casa, aquele hábito irritante de desaparecer sem dizer para onde, etc. ad infinitum
Esta tendência inata em ter saudades quando estamos longe e fartarmo-nos rapidamente quando estamos perto é que está na origem dos problemas, na minha humilde opinião. Só que para contrariar esta tendência é preciso fazer um esforço diário, um esforço consciente para quando estamos longe imaginar os defeitos e quando estamos perto só vermos as virtudes. É difícil? É. Mas o que é fácil e interessante?






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