quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O monstro




O maior monstro de todos os tempos mascara-se, adapta-se e sobrevive nas sociedades modernas que, tanto o odeiam como adoram, numa ambiguidade difícil de entender e que permite que ele alastre e se cristalize criando ramificações, cada dia que passa, mais profundas e de inumeráveis feitos perniciosos.
Esqueçam a terrífica figura do Adamastor que tragava barcas e navegadores; este monstro, qual encarnação do mal, não tem alvo predileto. Avança afetando todos os estratos sociais, todas as profissões, idades, géneros, não poupa novos nem velhos e tem mil rostos todos diferentes. É assim tão poderoso porque não podemos viver sem ele, ou pelo menos sem alguns dos seus efeitos; é velho, muito velho mesmo… sem ele, nem sequer aqui estaríamos. Por isso mesmo, por aquilo que fez e ainda faz por nós, ainda lhe devotamos tanto respeito sem levarmos em conta que, hoje em dia, longe de nos proteger como outrora, usurpou todas as funções que lhe tinham sido entregues e deturpando-as, subverteu-as a seu bel-prazer e para nossa ruína.

Quem com ele sofre ou já sofreu já sabe que falo do “monstro” do estresse. Ele nunca descansa nem deixa descansar.  Traz-nos  extenuados, irritados e mal-humorados durante o dia, atrapalha-nos o sono e também os sonhos durante a noite, afeta  os relacionamentos e o trabalho. Esqueçam todas as outras  ameaças: aranhas, tigres, cobras e lagartos, todos os predadores de quem era suposto ele  nos proteger aumentando a acuidade visual, a força e poder – daí a sua atratividade – é ele o inimigo! Passou de protetor a protegido pois é ver com que força nos agarramos a esta desregulada vida quando surge oportunidade de lhe virarmos as costas. Seduz-nos com a sua força que depois  vira depressão, parece manter-nos vivos para seguidamente com uma facada traiçoeira nos deixar esvaídos em sangue e com os pés para a cova; não nos deixemos ,pois, iludir , já não temos as ameaças da selva, bem identificadas, hoje, tudo é uma ameaça. Pelo menos quando ele – o monstro – toma o poder.

Em seu poder, engordamos, ficamos carecas e enrugados, temos Alzheimer ,  somos despedidos e desprezados, temos cancro e até o nosso sistema imunitário se vira contra nós, ah! E como se não bastasse já não queremos sexo, perdemos o encanto e o nosso parceiro(a) também , desvirtuamos o nosso sangue com gordura e açúcar a mais, quebram-se-nos os ossos, deformam-se-nos as articulações e os intestinos descontrolam-se, tanto por defeito quanto por excesso… querem mais? Já chega – para já -  que até os monstros têm um pouco de vergonha na cara.

Este incomensurável  monstro dá-se bem encafuado, parado e sempre atrasado, assoberbado de tarefas múltiplas , em mentes descontroladas; faz-lhe bem ao ego imaginar mil cenários ameaçadores que nunca se verificam, não relega responsabilidades ficando com os problemas todos só para ele e, ainda por cima, nos faz sentir orgulho nisso!

Tem uns quantos inimigos que sozinhos nada podem contra ele, mas juntos, mantêm-no no seu devido lugar, nas tarefas que lhe competem – síndrome geral de adaptação ou, por outras palavras resposta adaptativa de luta ou fuga. É que este é um monstro como outro qualquer, tem as suas fraquezas. Dá-se mal em contacto com a natureza; não gosta de ar puro nem de exercício – cansa-se logo e desaparece – nem gosta de umas boas e descansadas horas de sono nem tampouco de frutas e legumes – argh! – e não aprecia especialmente uma mente relaxada tipo zen. É isso, agora que lhe foram descobertas as fraquezas, estaremos preparados para lhe dar caça?

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