Quem não se lembra desse intenso
desejo tão humano de querer mudar o mundo?
Habitualmente, na adolescência, toma-se consciência de que não vivemos
num mundo perfeito e que os adultos que antes idolatrávamos afinal estão cheios
de incongruências, escondem com afã os
seus defeitos – por vezes até de si próprios – e até vivem vidas medíocres só
para fazerem parte dessa sociedade que ajudam a criar, mas que bem lá no fundo
abominam. Juramos então jamais nos tornarmos assim, rebelamo-nos e no esforço
de agregar outros para as nossas fileiras expomo-nos a um ou outro adulto que julgamos mais “puro”.
Começa então aí a verdadeira desilusão porque esse adulto que até é bem
intencionado já não acredita; também ele na sua adolescência quis mudar o rumo
dos acontecimentos, mas isso, como mais tarde iremos constatar por nós próprios
é uma utopia, é impossível mudar o mundo porque as pessoas que nele vivem não
querem. Então a desilusão toma conta de nós e a vida acaba por dar razão a quem
tão razoavelmente nos avisou e, repetidamente, assistimos ao que acontece aos rebeldes: são párias da
sociedade, sem abrigo, descriminados socialmente; caímos em nós e chegamos à
conclusão que mais vale seguir as regras.
Claro que, por vezes, no nosso
percurso pelos caminhos já trilhados e seguros encontramos quem ainda não se
conformou e que até é bem aceite pelos demais, seja porque não o levam a sério,
seja porque passa a sua mensagem com algum humor, seja porque tem uma posição
relevante na sociedade ou pela simples boa manutenção da paz comum, lá vai
sendo tolerado e, por vezes, consegue mesmo despertar o idealista que há em todos
nós. Esses são os verdadeiros líderes da nossa sociedade, os que podem fazer a
diferença e levar-nos a aproveitar o pouco tempo que nos resta para fazer uma
verdadeira revolução de mentalidades e conseguir, ainda, a salvação da espécie
humana e do nosso planeta.
Claro que há profissões que estão numa posição favorável para mudar o
mundo através das mentalidades; não são os políticos – credo – não são os
advogados, nem os polícias, com o devido respeito que estas e (quase) todas as
outras profissões me merecem, nem
tampouco uma qualquer classe inspirada
num romance de Joseph Ritson que ajudou a celebrizar Robin Wood o épico herói
que roubava aos ricos para dar aos pobres. Por muito atrativa que seja esta
ideia ela não é viável a longo prazo pois roubados os ricos que, também
ficariam pobres, outra coisa não restaria do que um bando de famintos à face da
terra. Quem verdadeiramente tem o poder de mudar o mundo são essa classe tão
abandonada tanto pelo poder político quanto pelos próprios encarregados de
educação: os professores, naturalmente.
Não sou professora por isso estou à vontade para elogiar e prestar o meu
culto a esses seres fantásticos com uma capacidade tão grande de auto-
sacrifício – como têm mostrado ao longo dos anos em que têm sido abandalhados à
esquerda e à direita. Penso não haver ninguém que não tenha na memória algum
professor que fez a diferença na sua vida – a não ser, é claro, que não tenha
andado na escola e esses não estariam aqui a ler os meus escritos. Alguns
objetarão que os professores são isto e aquilo, muitos nomes menos próprios e
eu até posso concordar com alguns, mas eu hoje falo dos Professores, daqueles
que estão na profissão por paixão, daqueles a quem brilha o olhar ao falar das
matérias em que são mestres, daqueles que tocam o coração dos alunos em toda a
sua humanidade, esses com “P” maiúsculo; esses, meus amigos, são insubstituíveis.
E, além do mais, nem sequer precisam de ser muitos, os outros, com letra minúscula,
que se atêm a passar de um recipiente para o outro o conhecimento tal qual o
absorveram para passar nos exames enquanto sonhavam com um chorudo ordenado –
que queda deram! – esses, não conseguem diminuir a luz que os outros trazem à nossa vida, a
luz do conhecimento e do amor por ele.
Não espanta, pois, que neurocientistas que também querem mudar o mundo e já sabem
como o fazer ,procurem esta classe privilegiada pelo acesso que têm a mentes facilmente
moldáveis, e lhes queiram ensinar os fundamentos da mente humana. Que
conjugação de esforços! Penso serem estes os arautos da boa nova que vem dos estados EUA – onde primeiramente
nasce o que é mau, mas também o que é bom: os fundamentos de uma nova
civilização humana baseada em tradições antiquíssimas, mas com a sustentação
científica que exigem os povos culturalmente mais avançados.
Tenho pois a esperança num mundo melhor, onde aprendemos desde a mais
tenra infância a dominar este potencial incrível que herdámos pela processo da evolução e com o qual tão pouco sabemos lidar
e que será capaz de nos revelar a verdadeira natureza humana que está em muitos
de nós adormecida, não que sejamos maus por natureza, mas simplesmente ignorantes
na forma de moldar este órgão de complexidade incomparável.
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