Depois das últimas
descobertas da neurociência a propósito da existência de consciência
nos animais – pelo menos nos vertebrados - os crentes vão ter de escolher qual das
características com que habitualmente
dotam o seu Deus afinal está ausente. Ou então vão ter de rever o mito da perda
do paraíso e subsequente vida de sofrimento devido ao pecado de Adão e Eva que
comeram a malfadada maçã e que por esse inócuo facto nos condenaram a nós, a
sua legítima prole, a um destino cruel cuja consequência final é a morte.
A religião católica – e penso que as de origem
cristã em geral - qual advogado do
diabo, defende o seu Deus da acusação de
malévolo por ter criado o mundo com
tanto sofrimento dizendo que os Homens, tendo livre arbítrio, têm o poder de
decidir-se pela salvação ou não; ora que
eu saiba o mesmo livre arbítrio nunca foi dado aos animais que têm sido
encarados para livre usufruto dos seres humanos. Esquecendo todos os problemas que o
livre arbítrio levanta pois tudo o que é
fundamental na nossa vida não escolhemos
de todo: os nossos pais; os nossos
filhos; o país em que nascemos e por consequência a nossa cultura, crenças e
educação; além de que até a escolha de um (a) companheiro (a) está
dependente - segundo alguns estudos – de
químicos que não controlamos, esquecendo estas incongruências, fica a questão de
os animais não terem livre arbítrio e
mesmo assim serem conscientes, se não pecaram e mesmo assim são plenamente
conscientes do sofrimento que lhes é infligido, então ou não foram criados por
um Deus sumamente bom ou equiparam-se-nos no que ao livre arbítrio diz respeito
e pecam enquanto se deliciam na carnificina que levam a cabo.
Mas se os animais afinal
também pecam pois plenamente conscientes que é o requisito fundamental para se escolher entre o bem e o mal, então
vai ser preciso elaborar o livro sagrado dos animais que dê conta do seu
paraíso perdido e da causa de um Deus omnisciente ter cometido duas vezes o
mesmo erro…ainda se pode dar o caso de aos animais só ter sido dada a
consciência do sofrimento sem o direito à livre escolha e, assim, sabem que vão fazer sofrer quando
se comem uns aos outros, eles próprios sofrem quando estão prestes a ser
devorados, mas nada mais podem fazer senão acatar as ordens do superior. E isso
seria ainda mais perverso.
Se dissermos que o Deus que
os criou é um Deus perverso que se delicia ao ver o produto da sua criação, para sobreviver e
se reproduzir , ter de matar ou morrer então, como só existe um Deus , o nosso
por consequência é também cheio de perversão e rebola-se a rir enquanto nós
vertemos lágrimas. Quem viu o saw – jogos mortais – tem um belo meio de comparação para o género de
liberdade de escolha que é dado às vitimas.
Depois de bem ponderados os
factos só posso afirmar que, finalmente, se fez luz no meu espírito, e que
percebo agora que Deus não quis que comêssemos da árvore do conhecimento pois
tinha muito medo que descobríssemos ou a sua maldade, ou incompetência, ou as
duas juntas; afinal comer do fruto proibido não foi tão inócuo assim.
Visto os factos, Deus só pode ser perdoado
pela sua inexistência pois se existisse, o único castigo para esse facto seria
ser queimado eternamente no inferno que ele próprio teria criado.
Sem comentários:
Enviar um comentário