sábado, 18 de agosto de 2012

Um Deus bondoso ou o precursor do Saw?




Depois das últimas descobertas da neurociência a propósito da existência de consciência nos animais – pelo menos nos vertebrados -  os crentes vão ter de escolher qual das características com que  habitualmente dotam o seu Deus afinal está ausente. Ou então vão ter de rever o mito da perda do paraíso e subsequente vida de sofrimento devido ao pecado de Adão e Eva que comeram a malfadada maçã e que por esse inócuo facto nos condenaram a nós, a sua legítima prole, a um destino cruel cuja consequência final é a morte.
A  religião católica – e penso que as de origem cristã em geral -  qual advogado do diabo, defende o seu Deus da acusação  de malévolo por ter criado o mundo  com tanto sofrimento dizendo que os Homens, tendo livre arbítrio, têm o poder de decidir-se  pela salvação ou não; ora que eu saiba o mesmo livre arbítrio nunca foi dado aos animais que têm sido encarados  para  livre usufruto dos seres  humanos. Esquecendo todos os problemas que o livre arbítrio levanta pois  tudo o que é fundamental  na nossa vida não escolhemos de todo: os nossos pais;  os nossos filhos; o país em que nascemos e por consequência a nossa cultura, crenças e educação; além de que até a escolha de um (a) companheiro (a) está dependente  - segundo alguns estudos – de químicos que não controlamos, esquecendo estas incongruências, fica a questão de os animais não  terem livre arbítrio e mesmo assim serem conscientes, se não pecaram e mesmo assim são plenamente conscientes do sofrimento que lhes é infligido, então ou não foram criados por um Deus sumamente bom ou equiparam-se-nos no que ao livre arbítrio diz respeito e pecam  enquanto  se deliciam na carnificina que levam a cabo.
Mas se os animais afinal também pecam pois plenamente conscientes que é o requisito fundamental  para se escolher entre o bem e o mal, então vai ser preciso elaborar o livro sagrado dos animais que dê conta do seu paraíso perdido e da causa de um Deus omnisciente ter cometido duas vezes o mesmo erro…ainda se pode dar o caso de aos animais só ter sido dada a consciência do sofrimento sem o direito à livre escolha  e, assim, sabem que vão fazer sofrer quando se comem uns aos outros, eles próprios sofrem quando estão prestes a ser devorados, mas nada mais podem fazer senão acatar as ordens do superior. E isso seria ainda mais perverso.
Se dissermos que o Deus que os criou é um Deus perverso que se delicia ao ver  o produto da sua criação, para sobreviver e se reproduzir , ter de matar ou morrer então, como só existe um Deus , o nosso por consequência é também cheio de perversão e rebola-se a rir enquanto nós vertemos lágrimas. Quem viu o saw – jogos mortais – tem um  belo meio de comparação para o género de liberdade de escolha que é dado às vitimas.
Depois de bem ponderados os factos só posso afirmar que, finalmente, se fez luz no meu espírito, e que percebo agora que Deus não quis que comêssemos da árvore do conhecimento pois tinha muito medo que descobríssemos ou a sua maldade, ou incompetência, ou as duas juntas; afinal comer do fruto proibido não foi tão inócuo assim.
 Visto os factos, Deus só pode ser perdoado pela sua inexistência pois se existisse, o único castigo para esse facto seria ser queimado eternamente no inferno que ele próprio teria criado.


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