No nosso país com complexos de
periferia, tudo se faz para chegar ao topo da hierarquia, mas longe de ser uma
coisa desejável como noutros países, na minha opinião, é algo triste e
sórdido… É que, na grande maioria das
vezes, sendo mulher e chegar lá – ao topo – estando cá – neste país – significa
nada mais que estar na base da cadeia alimentar. Sendo homem significa que já
há muito se perdeu o respeito próprio.
Sinto compaixão por quem lá está
e por quem, não estando, queria estar. O senhor fulano de tal, a senhora dona a
quem tiram o chapéu quando passam são uns pobres desgraçados que não sabem que
o são, só quando caem em desgraça disso se apercebem; os que se vergam em
vénias tais que se lhes rasgam os fundilhos enquanto lhes vai crescendo água na
boca na esperança de chegarem a ser, também eles, venerados , estes sabem a sua
triste condição de abutres dispostos a regalarem-se com os restos mortais dos
outros. Que triste figura, uns e outros.
Não têm amigos, nem o amor lhes bate à porta,
são invejados, mas não amados, são desprezados e atraiçoados, mas depois que
lhes retiram o título são simplesmente esquecidos e aqui é que sofrem horrores porque sentem
asco de si próprios. Não souberam
merecer o mais genuíno respeito, o seu próprio, que é o que mais conta pois é
baseado no conhecimento daquilo que é público – o comportamento – e do que é
privado – as verdadeiras intenções. Foi-se o título, foi-se o orgulho. Nunca
pensaram fora do sistema e agora, sem sistema, não sabem sequer pensar.
Desconfio pois de postos de
relevo e das suas comanditas no nosso Portugal, salvo raras exceções, não é
bonito de se ver, é o caixote do lixo, a escumalha, os que enxovalham todos os
valores que importam. Os que se querem manter íntegros, libertos, mantêm-se
longe das suas perniciosas influências.
Pergunto-me frequentemente que
país seria o nosso sem este sistema em que (quase) todos fazem especiais
favores ou estão à espera que lhos façam. Não deixo de imaginar que tantos dos
que achamos serem cidadãos de segunda, mais não são do que aqueles cujos
princípios não lhes permitem que se vendam, ou por outras palavras, aqueles
cuja consciência do seu valor não lhes permite venderem-se por tão pouco: um
posto onde os outros lhes fazem a vénia esperando que se vão para se
alimentarem dos restos.
Respondo frequentemente que sem
este sistema – qual bicho a que ( quase)
todos uma vez por outra damos de comer -
seríamos um país evoluído onde chegaria ao topo quem mais contribuísse
para o desenvolvimento e prosperidade, quem menos se vendesse a interesses
mesquinhos, quem sentisse orgulho de vestir a própria pele, quem procurasse a
excelência e o conhecimento, quem pensasse por si próprio e não o que as massas
ditam; neste país os verdadeiramente excecionais seriam vistos como
tal por todos e não só por eles próprios e pelos poucos, mas bons amigos que
têm , desta forma, todos ficaríamos a ganhar.
(imagem retirada da net)
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