A parábola dos ouriços é
paradigmática dos relacionamentos humanos. Conta a história que num certo dia
gélido e arriscando a morte, ouriços de picos espetados resolveram aproximar-se
dos seus congéneres para se aquecerem. O resultado como é bom de ver não podia
ser mais desastroso, como se não bastassem os próprios picos ainda tinham de
ser furados pelos picos alheios. Afastaram-se e começaram novamente a enregelar
pelo que se aproximaram outra vez. E assim por diante até conseguirem encontrar
uma distância ótima para nem serem picados, nem morrerem de frio.
Esta história foi contada por Schopenhauer,
o filósofo alemão do século XIX , e ilustra o facto das relações humanas
de maior proximidade serem as que maior gratificação podem trazer , mas também,
mais probabilidade têm de magoarem. Encontrar a proximidade ideal, é
pois, essencial para relacionamentos duradouros e satisfatórios.
Nada mais há de tão complicado na
vida como a convivência diária e para a qual estejamos tão mal preparados. Não
há famílias felizes, dizem alguns, quando muito toleramo-nos a custo e
arranjamos, por vezes, distâncias demasiado longas que nos proporcionam um frio
quase intolerável. É necessário, pois, encontrar a distância correta; mas como?
Que saudades quando os entes
queridos estão longe, nessas alturas só lembramos as brincadeiras, os bons
momentos que passámos juntos, o inverno à lareira a contar anedotas, ou as
traquinices que fizemos no verão;
recordamos a forma única como ele ou ela nos compreende, como nos
consolou quando fomos rejeitados pela primeira vez, como nos faz rir à
gargalhada como ninguém… mas quando juntos, as virtudes dele ou dela desaparecem
num ápice e já só vemos os defeitos: a forma barulhenta com que mastiga, o
jeito despreocupado com que deixa coisas espalhadas pela casa, aquele hábito
irritante de desaparecer sem dizer para onde, etc. ad infinitum.
Esta tendência inata em ter
saudades quando estamos longe e fartarmo-nos rapidamente quando estamos perto é
que está na origem dos problemas, na minha humilde opinião. Só que para
contrariar esta tendência é preciso fazer um esforço diário, um esforço
consciente para quando estamos longe imaginar os defeitos e quando estamos
perto só vermos as virtudes. É difícil? É. Mas o que é fácil e interessante?
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