segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Adolescência

E nesses dias sem começo nem fim quando tudo ainda restava fazer, quando só havia caminho a percorrer e as planícies se enchiam de flores de cores vivas e suaves brisas perfumadas, os sorrisos ainda conservavam a inocência da infância, mas já com um despontar de adolescência com as suas dúvidas tantas quantas as certezas e os julgamentos impiedosos do mundo, a bicicleta era a  fiel companheira de encontros fugidios e proibidos…
Os dias que se prolongavam até que o sol chamasse para a realidade tal como tantas vezes o fizera para as gerações passadas, o tempo em que não existia tempo e o presente era sorvido até à última gota de sol, último aroma de fruta fresca e madura que brotava da terra que era generosa nesses dias, últimos zunidos de azafamadas abelhas na sua contínua busca pelo pólen ; o encanto do primeiro beijo roubado sob uma nespereira que fazia estragos :  todo o mundo ruía , tudo à volta perdia substância e se evanescia num sentimento sem palavras  quando flutuávamos sem sair do chão num número mágico que perdurava todo um verão.
Ah, doces promessas de uma adolescência precoce, esses tempos em que tudo é esperança e o amor não dói , os dias gargalhados, estridentes e inacabados como se não houvesse nem noite nem dia, dias intempestivos que passavam de rompão sem que nos apercebêssemos tal era a fúria de viver;  esses dias não voltam. Mas fica a lembrança dos dias em que se voava com o impulso de um abraço, se vivia esfomeado de viver num apressar sem pressa, na ilusão das conquistas sem entraves nem impossíveis, dos sonhos que se faziam fáceis, da chuva que não molhava só caía…

Para sempre ficam também as amizades cândidas sem subterfúgios do bando e uma irreverencia juvenil que se espera que perdure para que os dias mais reais da adultez não cansem nem nos cinzem as manhãs que agora já não se nos apresentam assim tão infinitas…


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