E nesses dias sem começo nem fim quando tudo ainda restava fazer, quando só
havia caminho a percorrer e as planícies se enchiam de flores de cores vivas e
suaves brisas perfumadas, os sorrisos ainda conservavam a inocência da infância,
mas já com um despontar de adolescência com as suas dúvidas tantas quantas as certezas e os julgamentos
impiedosos do mundo, a bicicleta era a fiel companheira de encontros fugidios e
proibidos…
Os dias que se prolongavam até que o sol chamasse para a realidade tal como
tantas vezes o fizera para as gerações passadas, o tempo em que não existia
tempo e o presente era sorvido até à última gota de sol, último aroma de fruta
fresca e madura que brotava da terra que era generosa nesses dias, últimos
zunidos de azafamadas abelhas na sua contínua busca pelo pólen ; o encanto do
primeiro beijo roubado sob uma nespereira que fazia estragos : todo o mundo ruía , tudo à volta perdia substância
e se evanescia num sentimento sem palavras quando flutuávamos sem sair do chão num número
mágico que perdurava todo um verão.
Ah, doces promessas de uma adolescência precoce, esses tempos em que tudo é
esperança e o amor não dói , os dias gargalhados, estridentes e inacabados como
se não houvesse nem noite nem dia, dias intempestivos que passavam de rompão
sem que nos apercebêssemos tal era a fúria de viver; esses dias não voltam. Mas fica a lembrança dos
dias em que se voava com o impulso de um abraço, se vivia esfomeado de viver
num apressar sem pressa, na ilusão das conquistas sem entraves nem impossíveis,
dos sonhos que se faziam fáceis, da chuva que não molhava só caía…
Para sempre ficam também as amizades cândidas sem subterfúgios do bando e
uma irreverencia juvenil que se espera que perdure para que os dias mais reais
da adultez não cansem nem nos cinzem as manhãs que agora já não se nos
apresentam assim tão infinitas…
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