De onde vinha o medo de ser livre? O terror de viver na posse plena dos sentidos,
a responsabilidade de ser dono do próprio ser e de navegar com as velas ao
vento, medo que corresse mal, de não ser capaz, de falhar; porque esse assumir
da própria vida era terrível, opta a pequena embarcação pelas amarras, pelas desculpas
que ainda mais a diminuem, mas a tornam para sempre colecionadora de ondas que a atingem em pleno casco.
Ser livre não é para todos, ser barco no alto mar dá medo do desconhecido e da imensidão dos oceanos, por isso mesmo não soltamos a âncora e depois de
muito balançarmos no mesmo lugar, tal como o barco naufragado pensamos que não
há mais mares para navegar e ali ficamos nesse movimento perpétuo dependente das
chapadas das ondas, inconscientes para tudo o que há para além.
Libertarmo-nos é amadurecermos, aceitarmos a responsabilidade pelas
escolhas mesmo que algo corra mal, aceitarmos largar o porto seguro para
prosseguirmos caminho, aceitar que falhamos e que temos de ajustar as velas
muitas e muitas vezes e que isso depende da nossa força, mas quando finalmente
aceitamos que somos donos de nós, que estamos a desbravar o nosso próprio
caminho com a lâmina da nossa catana e que
não nos podemos dar ao luxo de olhar para aquilo que ficou lá atrás e que nos
prendia os movimentos aí, a dança torna-se fluída, os passos leves e seguros e
as maravilhas escondidas nos bosques de intrincados caminhos começam a
aparecer; é isso, dá medo viver…
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