segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Ponto de interrogação

E se eu pudesse ser ponto e virgula, uma pausa maior em vez de um continente de interrogações; se eu pudesse que me visses nesse tempo e espaço em que me torno consciente, por um pulsar de vida crescente, em que tudo acontece… como posso ser eu, assim tão febrilmente palpitante, no entanto, por magia poderia não o ser. Tal como a suave pétala de uma papoila, assim sou eu. Poderia ser pedra, ser sem existência, feita de ausências, não fora esta verborreia ininterrupta, fala do corpo sem palavras que me fazem ser pensante.
Eu queria acordar e numa vírgula me espreguiçar, ficar quieta um instante entre aquilo que é e o que poderia ser, sem pressa em me tornar eu numa lucidez crescente.  De onde venho agora? Neste preciso instante em que acordo e me torno eu, neste ínfimo tempo-espaço, quase impercetível a quem acorda abruptamente, mas que para mim permanece o segredo mais bem guardado do universo; poderia não ser mais eu…
Não quero ser reticências, não, antes um ponto final. Poderia não ser mais eu…
Porque sou feita afinal de questões sem resposta, tantos pontos de interrogação que mais pareço um exame de escrita sem as devidas soluções?
Quero certezas, afirmações. Quero ser um eterno ponto de exclamação! Uma eterna surpresa, surpreendida também. Quero ter a curiosidade de uma criança com os seus “ah!” diários diante do que é para todos banal.
Também não quero ser um parêntesis – na tua vida não -  antes um traço só, visto que o segundo me não é dado conhecer, mas mesmo que conhecesse; tudo menos reticências, numa infinita incerteza, em que nada acontece nem pode acontecer, para sempre no limbo da existência onde poderia nem ser eu.
Talvez dois pontos também não esteja mal, muito pode ainda ser dito, escrito, pensado. Há uma certa liberdade também, ainda posso perdoar, ser perdoada, amar, sentir; há espaço para a ação. Podes-me pôr entre aspas, mas só para dares relevo às minhas virtudes, para os defeitos basto eu.
Também dispenso asteriscos, não quero ser nota de rodapé na vida de ninguém; antes no cabeçalho que pelo menos tem maior relevo. Mas para quê tanto afã? Eu sou simplesmente um grande ponto de interrogação…
Não, reticências não! Não quero ficar com o sentido de mim suspenso, entregue a um caminho, quiçá sem retorno; dá-me um ponto final e acabemos com a conversa.



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