E se eu pudesse ser ponto e virgula, uma
pausa maior em vez de um continente de interrogações; se eu pudesse que me
visses nesse tempo e espaço em que me torno consciente, por um pulsar de vida
crescente, em que tudo acontece… como posso ser eu, assim tão febrilmente palpitante,
no entanto, por magia poderia não o ser. Tal como a suave pétala de uma
papoila, assim sou eu. Poderia ser pedra, ser sem existência, feita de
ausências, não fora esta verborreia ininterrupta, fala do corpo sem palavras
que me fazem ser pensante.
Eu queria acordar e numa vírgula me
espreguiçar, ficar quieta um instante entre aquilo que é e o que poderia ser,
sem pressa em me tornar eu numa lucidez crescente. De onde venho agora? Neste preciso instante em
que acordo e me torno eu, neste ínfimo tempo-espaço, quase impercetível a quem
acorda abruptamente, mas que para mim permanece o segredo mais bem guardado do
universo; poderia não ser mais eu…
Não quero ser reticências, não, antes um
ponto final. Poderia não ser mais eu…
Porque sou feita afinal de questões sem
resposta, tantos pontos de interrogação que mais pareço um exame de escrita sem
as devidas soluções?
Quero certezas, afirmações. Quero ser um
eterno ponto de exclamação! Uma eterna surpresa, surpreendida também. Quero ter
a curiosidade de uma criança com os seus “ah!” diários diante do que é para
todos banal.
Também não quero ser um parêntesis – na tua
vida não - antes um traço só, visto que
o segundo me não é dado conhecer, mas mesmo que conhecesse; tudo menos
reticências, numa infinita incerteza, em que nada acontece nem pode acontecer,
para sempre no limbo da existência onde poderia nem ser eu.
Talvez dois pontos também não esteja
mal, muito pode ainda ser dito, escrito, pensado. Há uma certa liberdade também,
ainda posso perdoar, ser perdoada, amar, sentir; há espaço para a ação.
Podes-me pôr entre aspas, mas só para dares relevo às minhas virtudes, para os
defeitos basto eu.
Também dispenso asteriscos, não quero
ser nota de rodapé na vida de ninguém; antes no cabeçalho que pelo menos tem
maior relevo. Mas para quê tanto afã? Eu sou simplesmente um grande ponto de
interrogação…
Não, reticências não! Não quero ficar
com o sentido de mim suspenso, entregue a um caminho, quiçá sem retorno; dá-me
um ponto final e acabemos com a conversa.
Sem comentários:
Enviar um comentário