sábado, 17 de agosto de 2013

Inconciliáveis opostos

Olharam-se, uma do alto da sua história com perto de três séculos feitos , a outra, do alto da sua contemporaneidade; a primeira, firme e serena, esfinge branca, alta e fria, com modos à antiga cumprindo normas e preceitos, rituais com toques de arrogância que regulam a vida dos que se regem por eles, a outra quente e mundana, sedutora no seu vestido vermelho que à noite alcança o apogeu de luz , desregrada e moderna contendo  promessas de ávidos prazeres; rivalidades inconciliáveis as desunem e, no meio do pomo da discórdia, ao destilar de um ódio quer barroco quer moderno, o rio Mondego assiste, qual testemunha muda e indiferente sem se pronunciar.
 Onde Sobriedade e luxo se confrontam, em margens opostas, empunhando cada qual a sua espada, defendendo cada uma um território de valores contraditórios e inexpugnáveis, separadas pelo tempo e pelo rigor de uma em contraste com o pendor displicente da outra, duas belas torres, cada qual com seu encanto: uma feita de cultura e recato, a outra, consumo e depravação; rivalidades femininas na luta sem tréguas por pretendentes que, indiferentes à disputa, se repartem por ambas sentindo apelos opostos quer se deitem com uma quer acordem com a outra.
Os mais incautos deixam-se apanhar, à noite, como insetos desgovernados que rodopiam em círculos atraídos pela mais ruidosa e atrativa nas suas cores berrantes e incandescentes, a outra vai lembrando e incitando à reflexão e contemplação com toques de um sino regular qual pai no seu autoritarismo relembra a filha da hora de recolhimento e o seu poder de sedução está ancorado em crenças e valores intemporais e seguros que dão conforto e alento quando a outra já esgotou há muito o prazer de ser novidade. Volta, assim, a antiquíssima ,às luzes da ribalta, mais contida e por isso mesmo mais segura e pujante no seu inviolável sentido de missão: regular a vida através de toques pontuais e sonoros, relembrar que é hora de partir em batalhas que ainda estão por ganhar.  



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