Olharam-se, uma do alto da sua
história com perto de três séculos feitos , a outra, do alto da sua
contemporaneidade; a primeira, firme e serena, esfinge branca, alta e fria, com
modos à antiga cumprindo normas e preceitos, rituais com toques de arrogância
que regulam a vida dos que se regem por eles, a outra quente e mundana,
sedutora no seu vestido vermelho que à noite alcança o apogeu de luz ,
desregrada e moderna contendo promessas
de ávidos prazeres; rivalidades inconciliáveis as desunem e, no meio do pomo da
discórdia, ao destilar de um ódio quer barroco quer moderno, o rio Mondego
assiste, qual testemunha muda e indiferente sem se pronunciar.
Onde Sobriedade e luxo se confrontam, em
margens opostas, empunhando cada qual a sua espada, defendendo cada uma um
território de valores contraditórios e inexpugnáveis, separadas pelo tempo e
pelo rigor de uma em contraste com o pendor displicente da outra, duas belas
torres, cada qual com seu encanto: uma feita de cultura e recato, a outra,
consumo e depravação; rivalidades femininas na luta sem tréguas por
pretendentes que, indiferentes à disputa, se repartem por ambas sentindo apelos
opostos quer se deitem com uma quer acordem com a outra.
Os mais incautos deixam-se
apanhar, à noite, como insetos desgovernados que rodopiam em círculos atraídos pela
mais ruidosa e atrativa nas suas cores berrantes e incandescentes, a outra vai
lembrando e incitando à reflexão e contemplação com toques de um sino regular
qual pai no seu autoritarismo relembra a filha da hora de recolhimento e o seu
poder de sedução está ancorado em crenças e valores intemporais e seguros que
dão conforto e alento quando a outra já esgotou há muito o prazer de ser
novidade. Volta, assim, a antiquíssima ,às luzes da ribalta, mais contida e por
isso mesmo mais segura e pujante no seu inviolável sentido de missão: regular a
vida através de toques pontuais e sonoros, relembrar que é hora de partir em
batalhas que ainda estão por ganhar.
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