De entre todas as técnicas que
possibilitam que se conheça alguém, uma das mais promissoras é a de cuscar os
estendais alheios. A observação minuciosa destes pode ser revelador da
personalidade de cada um dos habitantes, numa dada morada, e isto de uma só
assentada. Acredito que Freud teria tido muito a ganhar se a tivesse utilizado
pois poderia, com toda a certeza, ter poupado horas preciosas do seu tempo em
que, refastelado no sofá, tomava apontamentos da verborreia que assomava à
cabeça das donzelas da alta classe vienense; pena que já não esteja entre nós
pois acredito que de imediato levantaria o nobre cagueiro e correria as vilas e
cidades em busca de roupa pendurada!
Com facilidade se percebe as
pessoas dadas a dissimular traços não de personalidade, mas de carne em excesso
nas coxas, rabo e ancas que isto de viver no século XXI não é propício a ser
mulher, inclinadas que estamos a acumular os excessos de bens alimentícios nas
zonas supra citadas e, como está longe a Mauritânia! Onde gordura ainda é formusura nem que seja conseguida pela inserção forçada pelas goelas
abaixo de cuscuz e leite de camelo – e não
é para a malandrice que camelo serve também para designar a fêmea. Também não
estamos nos séculos XVII ou XVIII onde esta inclinação tão feminina de guardar
nutrientes no sítio errado era motivo de alegria e dava acesso direto a ser
estrela na tela de algum Renoir. Não. O nosso século é cruel por isso é até
compreensivo que se desenvolva uma personalidade dissimuladora de curvas,
tendência esta facilmente percebida pelas cintas completas que se veem
penduradas e que esmagam as carnes desde os joelhos até às costelas, na
esperança talvez que recebam os seios as carnes que sobraram.
Muito fácil também é detetar
aspirantes a cientistas e, consequentemente, aéreos por natureza pelas meias de
pares trocados que se encontram a balançar retorcidas no estendal, tendência
irritante que se lhes perdoa, se forem homens, pois já Einstein se enganava
nesse assunto, sendo mulher, como as collants vêm juntas não dando azo a este
tipo de distração serão os conjuntos de lingerie que darão a um olho treinado
pela experiência essa informação: repare-se se o tamanho do soutien coincide
com as cuecas, se não, podemos atestar a ocorrência de uma personalidade
tendencialmente distraída; ou será simplesmente uma mulher mal jeitosa cujas
mamas saem ao pai e o rabo a alguma familiar de proveniência latino-africana
cujo ramo antigo e desconhecido lhe deveria negar o direito de nos assombrar a genética?
E os obsessivo-compulsivos? Esses
são os mais fáceis de detetar pois a
roupa, imaculadamente estendida, sem rugas nem traços que faça suspeitar que
ainda se encontram a secar, está pendurada e toda enfileirada, agrupada por
cores e tamanhos, bem segura por molas que a agarram em locais específicos e,
milimetricamente, escolhidos fazendo corar de inveja as donas de casa à antiga,
cientes da impossibilidade de competir com tal zelo e perfeição.
E quanto aos mais desmazelados ou em vernáculo
puro português os porcos? Bom, também é só olhar o branco dos lençóis estendidos:
se for pouco menos que branco cal pode-se dar um atestado de imundície, convêm
é primeiro certificarmo-nos que não são só as vidraças das nossas janelas as
culpadas pela impressão causada, sujas que estão pela nossa personalidade cusca
que está para aqui a perder o tempo, precioso e necessário para as limpar, a
reparar nos estendais alheios.
Sem comentários:
Enviar um comentário