quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Mostra-me o estendal, dir-te-ei quem és.

De entre todas as técnicas que possibilitam que se conheça alguém, uma das mais promissoras é a de cuscar os estendais alheios. A observação minuciosa destes pode ser revelador da personalidade de cada um dos habitantes, numa dada morada, e isto de uma só assentada. Acredito que Freud teria tido muito a ganhar se a tivesse utilizado pois poderia, com toda a certeza, ter poupado horas preciosas do seu tempo em que, refastelado no sofá, tomava apontamentos da verborreia que assomava à cabeça das donzelas da alta classe vienense; pena que já não esteja entre nós pois acredito que de imediato levantaria o nobre cagueiro e correria as vilas e cidades em busca de roupa pendurada!
Com facilidade se percebe as pessoas dadas a dissimular traços não de personalidade, mas de carne em excesso nas coxas, rabo e ancas que isto de viver no século XXI não é propício a ser mulher, inclinadas que estamos a  acumular os excessos de bens alimentícios nas zonas supra citadas e, como está longe a Mauritânia!  Onde gordura ainda é formusura nem que seja  conseguida pela inserção forçada pelas goelas abaixo de cuscuz e leite de camelo  – e não é para a malandrice que camelo serve também para designar a fêmea. Também não estamos nos séculos XVII ou XVIII onde esta inclinação tão feminina de guardar nutrientes no sítio errado era motivo de alegria e dava acesso direto a ser estrela na tela de algum Renoir. Não. O nosso século é cruel por isso é até compreensivo que se desenvolva uma personalidade dissimuladora de curvas, tendência esta facilmente percebida pelas cintas completas que se veem penduradas e que esmagam as carnes desde os joelhos até às costelas, na esperança talvez que recebam os seios as carnes que sobraram.
Muito fácil também é detetar aspirantes a cientistas e, consequentemente, aéreos por natureza pelas meias de pares trocados que se encontram a balançar retorcidas no estendal, tendência irritante que se lhes perdoa, se forem homens, pois já Einstein se enganava nesse assunto, sendo mulher, como as collants vêm juntas não dando azo a este tipo de distração serão os conjuntos de lingerie que darão a um olho treinado pela experiência essa informação: repare-se se o tamanho do soutien coincide com as cuecas, se não, podemos atestar a ocorrência de uma personalidade tendencialmente distraída; ou será simplesmente uma mulher mal jeitosa cujas mamas saem ao pai e o rabo a alguma familiar de proveniência latino-africana cujo ramo antigo e desconhecido lhe deveria negar o direito de nos assombrar a genética?
E os obsessivo-compulsivos? Esses são os mais fáceis de detetar  pois a roupa, imaculadamente estendida, sem rugas nem traços que faça suspeitar que ainda se encontram a secar, está pendurada e toda enfileirada, agrupada por cores e tamanhos, bem segura por molas que a agarram em locais específicos e, milimetricamente, escolhidos fazendo corar de inveja as donas de casa à antiga, cientes da impossibilidade de competir com tal zelo e perfeição.

 E quanto aos mais desmazelados ou em vernáculo puro português os porcos? Bom, também é só olhar o branco dos lençóis estendidos: se for pouco menos que branco cal pode-se dar um atestado de imundície, convêm é primeiro certificarmo-nos que não são só as vidraças das nossas janelas as culpadas pela impressão causada, sujas que estão pela nossa personalidade cusca que está para aqui a perder o tempo, precioso e necessário para as limpar, a reparar nos estendais alheios.

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