quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Rivalidades

Se dúvida alguma houvesse ainda no meu espírito ela ter-se-ia dissipado hoje, pela manhã.
 Eram ambas caquéticas: vestidos desalinhados pelas posturas pouco eretas que o avanço da idade já não permite poses de manequim; sapatos cambaios, condizentes com os avançados joanetes e peles pendentes com falta de colagénio. Falavam gesticulando. Pelo jeito diria que se conheciam desde há muito tempo. Falavam das dores de ambas, quem sabe na esperança mútua de que as dores alheias, por serem maiores, ajudassem a minimizar as próprias dores. Ao passar por elas, já se despediam e pelo canto do olho pude ver o olhar de alto a baixo que uma deitou à outra-que já seguia, trôpega, a sua vida.
 Era daqueles olhares reprovativos que nós, mulheres, bem conhecemos e com os quais costumamos prendar as rivais quando achamos que se armam em boas e que sobem demais a bainha da saia angariando, deste modo, mais olhares masculinos. Tudo bem, já aceitei que nós nos vestimos para fazer inveja às outras mulheres e não para agradar os homens; que nós avaliamos as outras-mesmo inconscientemente- para nos certificarmos que não estão à nossa altura, mas naquelas idades? Que pensaria a senhora de olhar reprovador? Que a outra mostrava um pouco mais dos artelhos do que os bons costumes costumam aconselhar? Bom, talvez isso seja apenas sinal de que é mais corcunda, seguindo o vestido a tendência natural de subir de um lado e baixar do outro, e por isso mesmo deveria dar graças…

Não restam pois dúvidas de que se formos prendadas com muitos e muitos anos de vida continuaremos a ter, até ao fim, os mesmos olhares rivais femininos de outros tempos, embora nos faltem, talvez, os masculinos que justificariam os primeiros…

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