sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Obra prima

A vida é um livro por escrever e a arte com que escrevemos as páginas do livro da nossa é que vai determinar se vivemos ou não um best-seller, se será um drama ou uma comédia.
Cada novo dia é uma nova página que nos é oferecida, em branco, para que a escrevamos e a narrativa que escolhemos para compor o livro da nossa vida é que vai determinar a maneira como vivemos. Se não formos peritos na arte de narrar a nossa história teremos um mau romance ; se nos empenharmos nessa arte, se contarmos belas histórias a nós próprios seremos incomparáveis na arte de viver.
É que a vida, tal como uma obra prima, precisa ser embelezada, com todos os pormenores que estão lá, mas que teimamos em não ver, apressados que andamos numa narrativa automática…
Quando deixamos a narrativa da nossa vida entregue ao piloto automático, que adora prestar-nos um terrível serviço, estamos a falhar na arte de viver; é como se entregássemos a escrita do nosso best-seller ao Google  – quem conhece as traduções feitas por ele sabe que pode dar muitas calinadas.
A vida é ainda uma bela pintura; com que paleta de cores escolhemos pintá-la? Existe toda uma gama infinita de tonalidades e brilhos, de diferentes composições químicas e texturas. Porque demoramos mais a escolher a cor dos objetos que nos rodeiam do que as cores da nossa pintura? Que escolhemos realçar quando pintamos esse quadro? Que pormenores deixamos na sombra quase impercetíveis aos olhos do leigo e que outros pintamos de cores garridas salientando a forma e o tamanho?
A vida é ainda uma sinfonia, partitura escrita em tons graves e agudos, em notas escolhidas com ou sem critério e cujo maestro se encarregará de a tornar ou não harmoniosa. Um mau maestro, ou simplesmente inexperiente, pode tornar a vida uma cacofonia…

Nesta arte em que cada um de nós é o artista que compõe a própria vida, mais importante do a matéria prima com que criamos -  quer estejamos a narrar, a pintar ou a compor uma peça musical -  é onde vamos em busca de inspiração. Cuidado, muito cuidado para não esborratarmos a pintura toda, para não misturarmos realidade e ficção numa narrativa pobre em vocabulário e rica em figuras de estilo medievais. E haja santa paciência, que ela às vezes é escassa, para ouvir vidas tocadas a estilo pimba com contornos neo-populares…


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