terça-feira, 6 de agosto de 2013

Quem és tu, escritor?

Quem és tu escritor? Com trejeitos de um Deus maior, acaso te julgas um? Os teus dedos vão criando, ao sabor de um suave teclar, personagens e lugares e enredos antes inexistentes que manipulas ao sabor da imaginação do momento.
Com um olhar seleto reduzes a pó todo um universo para fazeres saltar para as luzes da ribalta o que bem entendes, pormenores insignificantes ganham, assim, uma importância inusitada enquanto outros são propositadamente omitidos. Sabe-te bem esse poder que trazes nas pontas dos dedos, oh senhor da vida e da  morte? Acaso vives tu também através dos inúmeros seres que dás à luz?
Vives com o mundo dentro e tens essa necessidade premente de o moldar à tua imagem e semelhança: única forma de te dares a conhecer; és um ladrão de vidas e sonhos de amores e essências. És ainda um indiscreto que olha dentro da alma desvendando-a a teu bel-prazer para com um toque certeiro, um volte face inesperado a pores na velha arca das recordações e usares quem sabe um dia se dela precisares; se não, ficará ela desnudada para sempre, mas esquecida relegada para um plano jamais utilizado.
Qual genocida impiedoso quantos e quantos seres mataste tu à nascença? Quantas crenças alheias derrotaste com uma simples pergunta? Quantos preconceitos dissipaste? Quem te julgas tu, que poder te assiste para com a palavra certa fazeres chorar o mais empedernido? Por que portas e travessas surges qual salvador, cavaleiro andante e trazes de volta quem se encontrava já esquecido.
Que fascínio têm as belas palavras que escreves para eu me descobrir? Com que passe de magia dizes as palavras que eram minhas, mas que nunca se atreveram a sair-me da boca! Oh, Deus! Por que linhas escreves e reescreves o destino daqueles pobres iludidos que o julgam seu vendo o mesmo ser desvendado numa página aleatoriamente escolhida.
Ah, mas às vezes as tuas personagens tomam conta de ti, possuem-te com uma tal força que se inverte o poder; ganham vida própria e viram-se contra o próprio criador e és tu que lhes tens de seguir os passos: pegam-te na pena e dominam o enredo, enredando-te junto, transportando-te ao inferno por ti tantas vezes criado e onde realidade e ficção se misturam mesmo fazendo parte de universos paralelos que jamais se tocam…

Triste sina a tua, vais de senhor a servo na inconstância dos dias e noites que passas criando seres que na volta te criam a ti…

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