Quem és tu escritor? Com trejeitos
de um Deus maior, acaso te julgas um? Os teus dedos vão criando, ao sabor de um
suave teclar, personagens e lugares e enredos antes inexistentes que manipulas
ao sabor da imaginação do momento.
Com um olhar seleto reduzes a pó
todo um universo para fazeres saltar para as luzes da ribalta o que bem
entendes, pormenores insignificantes ganham, assim, uma importância inusitada
enquanto outros são propositadamente omitidos. Sabe-te bem esse poder que
trazes nas pontas dos dedos, oh senhor da vida e da morte? Acaso vives tu também através dos
inúmeros seres que dás à luz?
Vives com o mundo dentro e tens
essa necessidade premente de o moldar à tua imagem e semelhança: única forma de
te dares a conhecer; és um ladrão de vidas e sonhos de amores e essências. És ainda
um indiscreto que olha dentro da alma desvendando-a a teu bel-prazer para com
um toque certeiro, um volte face inesperado a pores na velha arca das
recordações e usares quem sabe um dia se dela precisares; se não, ficará ela
desnudada para sempre, mas esquecida relegada para um plano jamais utilizado.
Qual genocida impiedoso quantos e
quantos seres mataste tu à nascença? Quantas crenças alheias derrotaste com uma
simples pergunta? Quantos preconceitos dissipaste? Quem te julgas tu, que poder
te assiste para com a palavra certa fazeres chorar o mais empedernido? Por que
portas e travessas surges qual salvador, cavaleiro andante e trazes de volta
quem se encontrava já esquecido.
Que fascínio têm as belas
palavras que escreves para eu me descobrir? Com que passe de magia dizes as
palavras que eram minhas, mas que nunca se atreveram a sair-me da boca! Oh,
Deus! Por que linhas escreves e reescreves o destino daqueles pobres iludidos
que o julgam seu vendo o mesmo ser desvendado numa página aleatoriamente escolhida.
Ah, mas às vezes as tuas
personagens tomam conta de ti, possuem-te com uma tal força que se inverte o
poder; ganham vida própria e viram-se contra o próprio criador e és tu que lhes
tens de seguir os passos: pegam-te na pena e dominam o enredo, enredando-te
junto, transportando-te ao inferno por ti tantas vezes criado e onde realidade
e ficção se misturam mesmo fazendo parte de universos paralelos que jamais se
tocam…
Triste sina a tua, vais de senhor
a servo na inconstância dos dias e noites que passas criando seres que na volta
te criam a ti…
Sem comentários:
Enviar um comentário